Na qualidade de Juiz, Edmundo Jordão, conquistou a simpatia da sociedade garanhuense, pois se tornaram notórias as suas sentenças de elevado teor literário e bom senso jurídico. Uma noite, tentaram intimidá-lo, atirando-lhe pelas costas. Falhara o tiro. O pistoleiro fora identificado e processado. Na hora precisa o que prevaleceu foi a sentença de acordo com a lei.
Em fins de novembro Edmundo Jordão assumindo o cargo de Promotor Público, na Cidade Serrana e, em 11 de dezembro de 1930, iniciava a sua colaboração no Diário de Garanhuns com o artigo: "Garanhuns". E assim se expressa "Garanhuns é uma bela Cidade. Como as mulheres bonitas, às pressas, fascina a gente".
Saltei, ali, na Estação, com tédio até na alma. Viagem monótona. Companheiros desinteressados. A velha insipidez das prosas de "wagons". Punhos cerrados de demagogos que pediam a morte de Washington Luiz para satisfazer vinganças... Idiotas! O Brasil é essa mansuetude de Getúlio. Nós fizemos a Revolução para respirar esse ar balsâmico que soprou dos pampas.
Mas, voltando a Garanhuns. Cheguei aqui estafado. Corpo e espírito cobertos de pó. Homem acabado, ralado de saudades. Maldisse a minha pobre carta de bacharel que me fazia correr a traz de tão longínqua promotoria. Tinha a sensação de que me haviam condenado à tristeza da Sibéria. Se Guerra Junqueira ainda estivesse em moda, diria que cheguei aqui triste como a tristeza oceânica do mar.
Mas tive de entrar em contacto com Garanhuns. Devia vê-la de perto. E fui, que encantamento para os meus sentidos. Como é bela Garanhuns. Bonita, viva, garrula, como uma jeune-fille adorável, melindrosa, tipo à carioca, senti, a seu contacto, uma ressureição".
E termina: "Ainda não despertei do meu encantamento, namorado sincero, continuo em êxtase. Sei dizer simplesmente que Garanhuns é como as mulheres bonitas - fascinam a gente".
Casado com Olívia Barbosa Jordão, do casal os rebentos: Edmundo Jordão Filho, o poeta, falecido muito jovem; Múcio Jordão, médico, clinicando em Recife, que desposou Enilda Malta; Rui, bancário cuja consorte Maria de Jesus.
J. D. da Fônseca em sua "Galeria de Retratos, diz: "Dr. Edmundo Jordão é Juiz de Direito. E cumpre a sua missão na sociedade com uma correção que arranca dos amigos os mais entusiásticos louvores e põe os descontentes, numa situação de silêncio forçado, pois nada podem alegar em relação a suas decisões.
Pode-se dizer, como Silveira Martins - "Perante nós, o réu, o potente e o ilustre desaparecem para surgir apenas o portador do direito. A nomeação do Juiz é como a ordenação do sacerdote".
Toma-se de indignação contra a Lei quando o seu formalismo idiota o obriga a julgar contra a sua consciência e segundo o alegado e o provado.
É um revoltado contra as injustiças da nossa organização social.
Edmundo Jordão, cuja amizade eu considero uma fonte de prazer intelectual, é um dos elementos verdadeiramente dignos e capazes da magistratura pernambucana. Como caráter, ninguém que conheço que o supere. Defeitos os tem daqueles que não envergonharão um homem, mesmo no atual conceito Moral. Tem uma inteligência viva e penetrante. Cultura generalizada e sistemática. Nem só os livros cheios de acórdãos e sentenças lhe atraem a atenção. Areja-lhe a mente uma quase profunda cultura literária e sociológica...".
*Alberto da Silva Rêgo / Escritor e jornalista / Os Aldeões de Garanhuns / 1987.
Foto: Ano de 1934 - Fórum de Garanhuns: No centro - Dr. Edmundo Jordão. Lado esquerdo - Dr. João Domingos, Acácio Luna, Antônio Eutímio. Lado direito - Drs. Morse Lira, Antônio P. Lira, Péricles Santos e Josafá Ferreira.
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