Em escandaloso discurso sobre artes, proferido no mês passado, o senhor Roberto Alvim, então na condição de chefe da área cultural de Pindorama, plagiou escancaradamente o guru da propaganda nazista, Joseph Goebbels. Por certo, nem sequer sabia que Goebbels, por sua vez, também copiou (embora de forma deturpada, invertendo perversamente a ordem das coisas) a parte final de clássica lição sobre narcisismo consagrada pelo psicanalista Fritz Perls.
Um dos idealizadores da Gestalt Terapia (terapia do contato), criada nos Estados Unidos, Perls concebeu esta fala genial e incisiva de uma pessoa sã impondo-se a um narcisista: "Eu sou eu, você é você. Se por acaso nos encontrarmos, será ótimo. Se não, não há o que fazer".
No discurso de Goebbels, a última frase do discurso muda de interlocutor. O "não há o que fazer" sai da boca de um tirano narcisista para impor-se como máxima do nazismo. Diz Goebbels: "A arte alemã será heroica e livre de sentimentalismo, ou então não será nada". É como dizer: você terá que ser o meu reflexo, fazer o que eu quero, ou então não será nada.
Que coisa, hein seu Alvim! Plagiar um plágio e, não bastando, com Wagner ao fundo!
Goebbels bem que tentou, mas só conseguiu o suicídio, depois de ver a fraternidade triunfar sobre o Holocausto. Triste fim também teve Narciso: morreu definhado olhando-se no espelho. Dizem ainda que foi por afogamento. Não faz diferença. Toda tirania, cujo colo é o narcisismo exacerbado, acaba mal. Diante do espelho ou - como aconteceu com o senhor Alvim logo após o tenebroso plágio nazi-tupininquim - no olho da rua, graças à pressão dos defensores da democracia.
*José Alexandre Saraiva nasceu em Panelas, Pernambuco, é advogado, jornalista, músico e escrito.
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