Mas não é sobre os dois Josés a temática da crônica de hoje, embora neles tenha-me inspirado para escrevê-la, sobretudo na minha identidade com o passado vivido na nossa cidade. Com licença de Eduardo Portella, digo que José Inácio e José Sarney estão prefeito e presidente, mas, na essência fundamental das coisas do espírito, são poetas permanentes!
Minha intenção manifesta é reconduzir-me ao passado e com os contemporâneos fazer um passeio sentimental pelos Cafés: o Glória, aristocrático, dos irmãos Arnóbio e Anísio Pinto; o Central, da classe média, que sucessivamente teve como proprietários Colimério Gomes, Joaquim de Barros Lins, Fausto Souto Maior e Sandoval Soares de Almeida. Ainda na avenida Santo Antônio, situado num prédio que foi do querido Chico Leal, o Garanhuns, também hospedaria, com fundos para a Maurício de Nassau, pertencente a David Jorge Rodrigues.
O Ponto do Índio, esquina com dom José, onde hoje está instalada a Moderna Sapataria, e vice-versa, que Pedro Brandão e Djalma Miranda, seguindo os desígnios de Manoel Paulo, tornaram-na mais elegante loja de calçados, acessórios de moda da cidade. No Ponto do Índio, de João Coimbra, pai das irmãs Acyoman, celebrizadas no início das atividades da Rádio Jornal do Commercio (Pernambuco falando para o mundo!), tomava-se o melhor café pequeno e saboreava-se as mais bem feitas empadinhas da terra, além da famosa gasosa "Princesa", sabores limão e maça, de fabricação de Luís Schetini, mais tarde de Aloísio Souto Pinto antes de ser vereador, prefeito e deputado (Garanhuns não tem donos!).
Na Santos Dumont, onde hoje uma parte da rua é denominada de Brás, o Café Avenida, de Doca (Pedro Gonçalves de Medeiros), pegado ao Café Carioca, de Adalberto Vilela, e quase defronte o de Antonio Dimitias, popular anfitrião do cronista em saborosos pratos de sarapatel, como somente ele sabia fazer na condimentação de inigualáveis temperos. Além da boa aguardente-de-cabeça, vinda do Engenho de Filinto Borges, das Antas!
O alemão Rodolfo, na praça João Pessoa, numa casa alugada ao comerciante português José Costa Leite (pai de poetas festejados, Waldimir e Ronildo), instalara-se com um café-bar, mais o último que o primeiro, onde não servia aguardente nacional que era substituída pelas similares estrangeiras: bagaceiras de Portugal, estanegras germânicas ou vodcas russas e polonesas. Os vinhos brancos eram do Reno, os rosados italianos e os tintos da Espanha, e por concessão aos brasileiros, mantinha algum estoque de cabernês engarrafados em Caixas do Sul, região da serra do Rio Grande. Um belo dia Zé Catão, com a turma petulante do "Espada d'Água", acabou com o internacionalismo do alemão Rodolfo: chegamos e nos sentamos todos quase lotando o salão, pedimos pratos de bem preparados quitutes, que saboreamos amaciados por excelente cachaça pernambucana, cana de primeiríssima qualidade, levada clandestinamente em preciosas garrafas sem rótulos. O alemão chiou. Porém o "chefe" Zé catão, assessorado por Pedrosinha e Nequinho, acabou fazendo Rodolfo sentar-se conosco para beber. Daí por diante o nacionalismo da cachaça pernambucana ficou implantado no sofisticado bar-café!
*Rinaldo Souto Maior / Jornalista e historiador / São Paulo, 30 de Agosto de 1986.
Fotos: (1) - Bar e Café Ponto do Índio (2) José Sarney, Wilson Campos, Dr. Othoniel Gueiros, entre outros (3) - José Inácio Rodrigues.
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