O carnaval, a Casa Grande, cheiro de mel de engenho, a bagaceira onde brinquei folguedos com outros meninos dos já distantes, saudosos e sempiternos tempos de menino.
A casa do meu pai conjugada ao armazém, onde em Pirauá negociava secos e molhados, tecidos e miudezas! Seu escritório de rábula onde atendia pedidos para defender no júri de Timbaúba presos pobres, desarvorados da sociedade por roubos, crimes de morte e defloramentos vis.
A primeira viagem de trem, o medo do apito que senti na velha locomotiva dos ingleses da Great Western! A chegada ao Recife, à cidade grande, capital do Estado, onde pela primeira vez encadeei-me com a profusão da luz elétrica tão diferente daquela que os candeeiros iluminavam nossa casa!
A cheia do rio Paraíba do Norte, as feiras de São Vicente Férrer e da antiga Macapá! As visitas, nas festas de Santana, a Bom Jardim - onde, na casa dos avós paternos, tomei meu primeiro banho de chuveiro, milagre do progresso da água encanada.
A primeira grande mudança, a grande viagem - de Pirauá para Garanhuns -, do extremo norte para o sul de Pernambuco. Da fronteira da Paraíba para a das Alagoas! Viagem de mudança, tão longa e tão grande que, menino, pensava não chegar nunca à cidade escolhida por meu entendimento de menino de 5 anos.
Em fevereiro de 1935 chegávamos enfim a Garanhuns, que pareceu-me tão monumental em relação a Pirauá (onde professor Uzzae Canuto fez seu primeiro culto evangélico); maior que ela apenas o Recife, segundo meu entendimento de menino de 5 anos.
Nossa primeira casa na rua 15 de Novembro, depois, por economia, fomos morar nos fundos da loja, na avenida Santo Antônio, prédio que meu pai alugou a Zé Gregório - os fundos davam para a rua Santos Dumont, defronte da oficina pioneira de João Tude.
Fui crescendo em Garanhuns e lá meus irmãos foram nascendo - 8 ao todo que somando-se aos 4 vindos de Pirauá, eu o mais velho da prole de 12 filhos, em seguida Miriam - minha primeira amiga, muito mais que apenas irmã, muito mais!
O tempo foi passando, correndo tão rapidamente que hoje, reflito, não sei porque tanta pressa... Meu pai no trabalho, prosperando, com o crescimento de Garanhuns! Em 1941 comprou ali, a primeira casa própria, residencial, bem provida cheia de calor humano - no lado de baixo da avenida Santo Antônio junto ao Fórum e da Associação Comercial, o número 485, onde Miriam deu a luz todos seus quatro filhos, aparados por Dr. Godofredo.
Retratos - retalhos de um tempo - que ficaram marcando meu espírito, retratos que acompanham-me em toda travessia existencial...
Retratos que não foram tirados por nenhuma indissoluvelmente fixados em todas paredes sensitivas do meu pobre ser...
*Rinaldo Souto Maior / Jornalista e historiador / São Paulo, 1 de Setembro de 1984.
Foto: Em 1941 comprou ali, a primeira casa própria, residencial, bem provida cheia de calor humano, no lado de baixo da avenida Santo Antônio junto ao Fórum e da Associação Comercial, número 485, onde Miriam deu a luz a todos seus quatros filhos, aparados por Dr. Godofredo de Barros.
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