Severino de Albuquerque
Em fevereiro de 1981 o jornal O Monitor publicava - Aconteceu na década de 1920. Francisco de Amélia, que atendia também pela alcunha de Chico Lorota, possuía três quadros de terra que situava-se a duas léguas de Salgueiro. Quando o ano era bom de inverno, o cultivo de mandioca, milho e feijão até dava para passar, incluindo o lucro que obtinha com o negócio de vender galinhas semanalmente na feira de Salgueiro.
Num dia de feira, em pleno verão, com um sol causticante, lá vai ele com as suas galinhas para comerciar. Uma vez chegando ao local de vender as galinhas, veio o imprevisto: todas elas estavam mortas em consequência do calor. Desapontado, seu Lorota ficou a ver navios. Aí, teve uma ideia. Dito e feito.
Avistou com o seu compadre Manoel Gato e falou-lhe dez mil réis emprestados para comprar os mantimentos de que necessitava.
Seu Manoel, sabedor de longa data que o seu compadre era um velhaco de quatro costados, pensou um pouco e resolveu emprestar-lhe a quantia solicitada, mas na condição de receber no prazo máximo de oito dias, com o que seu Lorota concordou.
Decorridos dois anos do empréstimo, com um número incontável de cobranças, seu Manoel, num dia de feira, teve o palpite que ia receber o dinheiro, e assim aconteceu. De certa distância avistou seu Lorota que estava vendendo alguns bodes. Sorrateiro, foi-se aproximando do local onde se encontrava o Lorota, e ficou numa esquina que distava cinco metros do Lorota com os seus bodes, observando o final do negócio. Viu bem quando o compadre colocou o dinheiro no bolso. Chegou a ele e bateu-lhe no ombro.
Lorota virou-se e teve a surpresa de ver ali o compadre Manoel que, após cumprimentá-lo, foi logo dizendo:
Compadre, estou aqui para receber o troquinho que você me deve há dois anos.
Então Lorota desculpou-se dizendo que no momento estava sem dinheiro, pedindo-lhe mais um pouco de paciência, que no fim do mês faria o pagamento, ao que compadre retrucou:
Compadre, não adianta negar. Eu estava naquela esquina de onde vi você botar no bolso o dinheiro que recebeu pela venda dos bodes.
É isto compadre. O jeito que há mesmo é lhe pagar. Ponha a mão no meu bolso e retire o seu dinheiro. Você esta vendo esta mãozinha que Deus me deu, ela nunca foi ao bolso para pagar a ninguém.
É isso mesmo compadre.
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