Marcílio Reinaux
Toldas de galinha guisada,
e fava verde, logo cedo se armavam,
bois puxando carros, chiando na madrugada,
chegando pra feira. O sol nascendo
por traz da serra, "O Monte Sinai".
A feira surgindo,
A feira de Garanhuns.
Na feira, de tudo tinha:
Pinhas gigantes; até tanajuras
com prenúncio das trovoadas,
Camarão pequeno: "a Pitiguirra";
Castanha assada, Fubá de milho
e fotógrafo lambe-lambe.
O velho pedindo esmola
e a carne de primeira, pendurada nas barracas.
O troca-troca movimentado: Canários,
Bicicletas, "baixo-falantes", roupas...
O vendedor de remédio de verme gritando,
Uma velha cantando, bacia de queijo
A mão, menino de frete, carroça em punho, rangindo.
Toldas de secos e molhados, com
Sabão, feijão, açúcar e charque,
Mulheres e homens com aventais, despachando.
Literatura de cordel, todos folhetos.
Chocalhos, candeeiros de lata, erva
Pra todos os males, bonecos de barro,
Jarras, quartinhas; toldas de doce
de coco e de batata.
Bolacha "mata-fome" e água de pote.
Caldo de cana em copos mau lavados.
A feira de Garanhuns
meninos correndo,
Mulheres se encontrando e
matracando a vida alheia... vozerio.
Cantadores, o mágico,
vendendo cartas de baralho aos meninos
E matutos, por perto o famigerado
Fiscal da Prefeitura cobrando impostos.
Pão doce, com queijo e café
Nas toldas de comida.
Um cigarro de palha aceso,
Na boca da mulher e o
Ativo cheiro dominando e espaço.
A feira era na rua do comércio,
A loja "Atrativa", e pertinho a
Sapataria Moderna. Adiante a
"Farmácia Osvaldo Cruz", onde seu
Ernano receitava o povo, o consultório
Do doutor Othoniel Gueiros se enchia de
Mulheres para consultas, o lado de cima
"Agência Reinaux", a loja do meu pai.
No lado de baixo o bilhar com os viciados.
Na rua a feira fervilhava de gente.
A tarde devagar ia chegando. O sol ia
Se pondo por traz da outra serra "O Magano".
O carro de boi seguia gemendo, de volta
Pra casa. A feira ia se findando.
Garanhuns ia adormecendo.
Garanhuns Ano Cem | Fevereiro de 1979.
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