Uma garanhuense trucidada pela ditadura militar - Ranúsia Alves Rodrigues (1945-1973) - Nasceu em Garanhuns e mais tarde migrou para Recife, a fim de cursar Enfermagem, na Universidade, passou a se envolver com o movimento estudantil, integrando o Diretório Acadêmico. Em seguida, se filiou ao PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário). Adotou os pseudônimos de "Olívia", "Florinda" e "Nuce", para atuar na clandestinidade. Nesse período, engravidou. Teve uma filha, de nome Vanúsia. Os pais de Ranúsia não eram de acordo com as aventuras políticas da filha.
Assim, mesmo sabendo que seria arriscado a filha cuidar de uma criança em paralelo com a vida de militante, não quiseram assumir a neta, que então foi submetida aos cuidados de Almerinda de Aquino, uma empregada da família.
No ano de 1968, quando participava do 30º Congresso da UNE, Ranúsia foi detida pelos militares em Ibiúna(SP). Contudo logo liberada. Nem por isso deixando de continuar sendo ferrenha combatente da ditadura. Anos se passaram e a garanhuense cada vez mais viria a envolver-se de corpo e alma a favor da resistência.
Foi, portanto, no ano de 1973, que Ranúsia levaria a pior, na Praça Sentinela, Jacarepaguá(RJ). Foi assassinada com rajadas de tiro, sem nenhuma piedade. De acordo com o livro "Dos Filhos Deste Solo", Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio relatam a cena: "Chovia na noite de 27 de outubro de 1973, um sábado. Alguns poucos casais escondiam-se da chuva junto do muro do Colégio de Jacarepaguá, no Rio. Por volta das 22 horas, um homem desceu de um Opala e avisou: 'Afastem-se porque a barra vai pesar'. Continuam: "Não ouvimos um gemido, só tiros, o estrondo e a correria dos carros". Vindos de todas as ruas que levam à praça, oito ou nove carros foram chegando, cercando um fusca vermelho de placas AA-6960 e despejando tiros. Depois jogaram um bomba dentro do carro. No final, havia uma mulher morta (Ranúsia) com quatro tiros no rosto e peito e três homens carbonizados".
Em 13 de dezembro de 2016, o Reitor da UFPE Anísio Brasileiro reconhece Ranúsia Alves Rodrigues como aluna do curso de graduação em Enfermagem da UFPE de 1966 a 1968, essa reivindicação feita através do atual Diretório Acadêmico de Enfermagem que leva o nome de Ranúsia Alves -DARA - em suas pautas durante a ocupação de 40 dias do departamento de Enfermagem da UFPE mobilização contra a PEC 55.
Ranúsia Alves foi rematriculada na UFPE e passa a ser reconhecida como ex aluna. Um feito histórico que contou com a participação de amigos e colegas de turma e do DA da época de Ranúsia, além de sua sobrinha representando os seus familiares. Hoje a chamada por ela é assim respondida. Ranusia Alves? PRESENTE!¹
No livro Dos filhos deste solo, Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio assim registraram o episódio:
Chovia na noite de 27 de outubro de 1973, um sábado. Alguns poucos casais escondiam-se da chuva junto do muro do Colégio de Jacarepaguá, no Rio. Por volta das 22 horas, um homem desceu de um Opala e avisou: “Afastem-se porque a barra vai pesar”. O repórter de Veja (7/11/1973) localizou alguém que testemunhou o significado desse aviso: “Não ouvimos um gemido, só os tiros, o estrondo e a correria dos carros”. [...] Vindos de todas as ruas que levam à praça, oito ou nove carros foram chegando, cercando um fusca vermelho de placa AA 6960 e despejando tiros. Depois jogaram uma bomba dentro do carro. No final, havia uma mulher morta com quatro tiros no rosto e peito e três homens carbonizados.
Essa mulher era Ranúsia Alves Rodrigues, pernambucana de Garanhuns e estudante de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco. Já havia sido presa uma vez, em Ibiúna (SP), em 1968, quando participava do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em consequência disso, foi expulsa da universidade pelo Decreto 477, no ano seguinte.
Vivendo na clandestinidade como militante do PCBR, Ranúsia teve uma filha, chamada Vanúsia. Em outubro de 1972, passou a atuar no Rio de Janeiro. Documentos dos órgãos de segurança do regime militar sustentavam que, em 25 de fevereiro de 1973, ela teria participado da execução do delegado Octávio Gonçalves Moreira Júnior, do DOI-Codi/SP, em Copacabana.
Sua foto e seu nome tinham sido divulgados, erroneamente, como uma das pessoas mortas na chamada Chacina de Quintino, em 29 de março de 1972, no lugar de Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo.
Apesar de os quatro militantes estarem perfeitamente identificados, os órgãos de segurança omitiram as mortes de Ramires e Vitorino e enterraram todos sem identificação, como indigentes, no cemitério Ricardo de Albuquerque, no Rio de Janeiro. Em 2 de abril de 1979, seus restos mortais foram transferidos para o ossuário geral e, por volta de 1980 ou 1981, para uma vala clandestina com cerca de 2 mil outras ossadas.
No arquivo do Dops/RJ, foi encontrado um documento do I Exército, de 29 de outubro de 1973, que narra o cerco aos quatro militantes desde o dia 8 do mesmo mês, culminando com a prisão de Ranúsia na manhã do dia 27. O documento inclui o interrogatório e as declarações da militante no DOI-Codi/RJ.
Fontes: http://coletivodegenerovioletaparra.blogspot.com.br/2014/04/ranusia-alves-rodrigues-1945-1973-1.html
(1) - Ana Wládia Silva de Lima
Livro Direito à memória e à verdade: Luta, Substantivo Feminino; mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura.