quinta-feira, 25 de abril de 2024

Gerentes e Supervisores do IPA do interior se reúnem com nova diretoria


Na desta quarta-feira, a sede do IPA recebeu Gerentes e Supervisores de todas as regiões do estado para um dia de integração mútua com a nova diretoria do Instituto. O encontro teve como objetivo priorizar o diálogo entre as gerências, estações experimentais e diretorias, promovendo uma maior colaboração e sinergia entre as equipes.

Durante a reunião, cada membro da equipe teve a oportunidade de se apresentar, destacando suas áreas de atuação e contribuições para o IPA. Foi um momento de ouvir as demandas de forma igualitária, onde todos puderam expressar suas ideias e contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento das atividades do Instituto em todo o estado. Essa iniciativa reflete o compromisso do IPA em promover uma gestão participativa e transparente, visando sempre o melhor para a agricultura e desenvolvimento rural em Pernambuco.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Pato Fu & Giramundo são atrações do fim de semana, em Garanhuns

FOTO: PATO FU & GIRAMUNDO BY DUDI POLONIS

Banda e grupo de teatro de bonecos mineiros se apresentam, neste sábado (27/04), às 19h, no “RODA – Festival de Artes para Infâncias”, idealizado pelo Centro Cultural Sesc 

O RODA – Festival de Artes para Infâncias, do Centro Cultural Sesc Garanhuns, recebe, neste sábado (27/04), uma das atrações mais aguardadas desta primeira edição. É o show “Música de Brinquedo 2”, da banda mineira Pato Fu e o grupo de teatro de bonecos Giramundo, também de Minas Gerais. A apresentação será no Teatro Reinaldo de Oliveira, às 19h.

O espetáculo é baseado em “Música de Brinquedo 2”, álbum da banda lançado em 2017. Fernanda Takai, John Ulhoa, Ricardo Koctus, Xande Tamietti e Richard Neves interpretam canções nacionais muito conhecidas do público, como “Palco”, de Gilberto Gil, e “Mamãe Natureza”, de Rita Lee, e sucessos internacionais, a exemplo de “Livin’ la Vida Loka”, do Rick Martin, e “Every Breath You Take”, do The Police.

Há ainda a participação de Thiago Braga e Camila Lordy, em diversos brinquedos e miniaturas. O show se completa com os vocais de apoio de Groco e Zilgo, monstrinhos criados pelo Giramundo de Teatro de Bonecos, que são manipulados por Marcos Malafaia, Beatriz Apocalypse e Ulisses Tavares.

Os ingressos já estão à venda e podem ser adquiridos na Central de Relacionamento do Centro Cultural Sesc ou pelo site https://www.even3.com.br/patofumusicadebrinquedo. O preço é de R$ 80. Trabalhadores do comércio e dependentes, com a Credencial Sesc em dia, e beneficiários da meia-entrada pagam R$ 40.

Uma outra forma de assistir ao espetáculo musical é com o ingresso solidário. O preço é R$ 60 + 1Kg de alimento que será destinado ao Sesc Mesa Brasil. Todo alimento arrecadado será distribuído entre as instituições cadastradas no programa que atendem famílias em situação de vulnerabilidade social da região de Garanhuns.

“A programação do RODA é tão diversificada e repleta de atrações que, quem vier para o show Música de Brinquedo 2 e chegar mais cedo, poderá aproveitar e participar de ações gratuitas, como contação de histórias, exposições artísticas e sessões de cinema”, explica Rita Marize, gerente do Centro Cultural Sesc Garanhuns.

RODA – A programação do “Festival de Artes para Infâncias” segue até o da 22 de maio, com sessões de cinema, espetáculos de teatro, dança e música, oficinas artísticas, palestras e muito mais. Tudo isso com o foco em um processo de aprendizagem permeado pelos elementos das Artes, que visam provocar mudanças importantes na trajetória educacional dos meninos e meninas. O projeto envolve arte e educação, celebra a diversidade cultural e promove o desenvolvimento integral da garotada. As atividades têm os pequenos como protagonistas e exploram novos horizontes, estimulando seu crescimento físico, social, mental, emocional e cultural. A agenda completa das ações está no site http://sescpe.org.br.

Serviço: Pato Fu & Giramundo, no Roda – Festival de Artes para Infâncias 

Realização: Centro Cultural Sesc Garanhuns

Data e horário: 27 de abril, às 19h

Local: Teatro Reinaldo de Oliveira – Rua Cônego Benigno Lira, s/n, Centro

Ingressos na Central de Relacionamento do Centro Cultural Sesc ou pelo site

https://www.even3.com.br/patofumusicadebrinquedo

Preços:

R$ 80 (inteira)

R$ 40 (trabalhadores do comércio, seus dependentes e beneficiários da meia-entrada)

R$ 60 (ingresso solidário + 1kg de alimento)

Informações: (87) 3762-3154 e (87) 99134-3639 (WhatsApp)

Infância em Garanhuns

Garanhuns Antiga/Trecho da Avenida Santo Antônio

Texto de Valdemir Barbosa*

Nesta maravilhosa cidade serrana, situada no Planalto da Borborema, numa altitude média de 896 metros, com o seu ponto culminante de 1.030 metros numa das suas sete colinas denominada de Magano, rica de flores e única cidade do Nordeste onde se vê a garoa, clima privilegiado que em média na época invernosa pode-se registrar 15º, no verão tem sido de 20º em noites agradáveis. Várias fontes de águas minerais. Posição estratégica, considerada como Polo da Região Agreste Meridional, onde se pode contar com 20 cidades que a circundam a sua posição geográfica e mais outras dos estados de Alagoas, Bahia e Paraíba, fortalecendo assim o comércio e a nossa indústria local. Conta-se com uma ótima mobilidade, destacando-se as BR-423 que liga Garanhuns-São Caetano, a Recife pela BR-232; e BR 424 que liga Garanhuns-Arcoverde e/ou Garanhuns-Paulo Afonso (BA), além da PE-177, que liga Garanhuns-Recife via Palmares e/ou Garanhuns-Maceió (AL). Aqui a qualidade de vida tem sido muito boa; sua riqueza surge desde a área rural, com sua agroindústria em expansão; agropecuária com uma bacia leiteira que tem alimentado as indústrias de transformações; o comércio tem demonstrado seu desenvolvimento crescente, destacando-se empresas aqui já instaladas, sendo uma centenária e outras de grande porte, de prestígio nacional; turismo tem sido a sua principal vocação, onde tem sido bem recebido o turista, por ocasião dos festivais e outros eventos religiosos, podendo contar com pontos turísticos, bons hotéis e inúmeros restaurantes, bares, lanchonetes, etc, com cardápios para os mais exigentes frequentadores, motivo pelo qual tem sido realizado anualmente o Festival Gastronômico, tornou-se um orgulho para o município, que cada dia tem aprimorado na sua estrutura e o bom atendimento aos que aqui chegam, sem esquecer o seu desenvolvimento nas artes e na área cultural, destacando-se várias instituições de ensino superior, municipal, estadual e federal, os quais oferecem os Cursos de Direito, Engenharia Civil, Administração, Medicina, Veterinária e tantos outros.

Conta-se com ótimos estabelecimentos de ensino, dos quais dois já centenários, e breve surgirá o terceiro em antiguidade, pertencente à Diocese de Garanhuns. Graças a Deus, fui premiado pela força divina, por ter nascido nesta cidade, motivo pelo qual me deixa muito orgulhoso e feliz ao relembrar a minha infância que aqui passei até os dez anos de idade na Rua Professor Amaury de Medeiros, bairro do Heliópolis, e de lá me afastei para fixar residência na Rua 15 de Novembro, centro, onde me acho ocupando o prédio de herdeiros. No momento não deixaria de relembrar as minhas peraltices de criança, que ficaram fixadas na memória. Lembro-me ter esmagado com o pé, um pintinho com poucos dias de vida, que fazia parte de uma ninhada pertencente a minha genitora, com estupidez e sem ressentimentos. Houve uma denúncia que meus pais tomaram conhecimento, do fato de alguém ter virado a lata de lixo da nossa vizinha, que se achava na beira da calçada, ficando esparramado. De pronto meu pai que sempre foi um homem amante das coisas certas e honestas, logo considerou o seu filho culpado e de pronto me deu umas "boas" com o cinturão que se achava na sua cintura, apesar da minha negativa. Depois que tudo passou, houve a apuração do caso, ficando claro que eu estava realmente inocente. O castigo já tinha sido aplicado. Sem ressentimentos, esclareço que determinados castigos que se aplicavam em mim e nas crianças, reconheço que em minha geração em nada foi prejudicial em seu desenvolvimento físico e mental e nem se tem  notícias de jovens que se tornou marginal, como consequência da criação daquela época.

O mesmo ocorreu com relação ao trabalho de menor, em nada impedia de estudar e ter o seu tempo de recreação. O resultado era positivo e animador. Em várias fases da minha vida, sempre procurei ajudar os meus pais. Era, momentos em que se aprendia a manter contatos com as pessoas, aprendia a fazer pequenas atividades comerciais, conhecendo a moeda corrente nacional, fazer escolha acertada do produto que se comprava na feira livre, etc. Atualmente tudo é proibido e as consequências são as mais indesejáveis na formação dos jovens, que serão os responsáveis pelo futuro de uma nação continental. Deve-se proporcionar ao filho (a) uma infância bem orientada, sem escravizá-la, sem imposição, com realismo, e que lhe proporcione um ambiente familiar sadio e sendo responsável em suas atitudes, para alcançar uma adolescência e juventude, numa perfeição elogiável, pronto para enfrentar o mundo, sem hostilidades. Lembre-se que em sua terra o profeta não é prestigiado, nem mesmo pela própria família, são palavras bíblicas. Com os meus irmãos, houve uma preparação prévia para se enfrentar o mundo, que resultou em realidade e sucesso, graças a Deus. (*Texto transcrito do jornal Cidade de 05 de julho de 2014).

Sivina

Sivina

João Marques | Garanhuns, 15/05/1993

Treze de maio, uma data de liberdade no Brasil. Os filhos da raça negra, no século passado, foram dispensados do trabalho escravo. Passaram os negros ao trabalho remunerado, (ficando sujeitos aos baixos salários). Ficando condicionados às restrições sociais e tantas outras formas de submissão, mas foram libertados das senzalas e das perseguições nas fugas. O maior benefício veio com o desenvolvimento da cultura negra. Livres, puderam manter as tradições de culto, de cozinha, de divertimento, enfim, uma cultura que se definiu. Uma cultura que influencia às outras culturas, e se torna forte a ponto de, muitas vezes, prevalecer às outras formas de manifestações.

CASTRO ALVES

Não resta dúvida, considerando o acervo cultural da Bahia apenas, que o negro vem conquistando, no Brasil, a liberdade definitiva, através dos costumes e de uma filosofia própria. Felizmente, não acontece perturbações que viessem a título de impedir este desenvolvimento, não havendo, como se considera, racismo em nosso país. Incompatibilidades leves acontecem e não  pode deixar de ser, frutos do atraso da humanidade, resultado de uma civilização que caminha ainda a passos lentos.

Um passado de sofrimento faz com que o negro seja  mais forte, digamos, ao tocar do tambor, suando mais, pulando mais alto, gingando bem. Eu olho para o negro de forma especial. Me lembro do passado e de tudo que se alinha a sua sobrevivência: trazido, nos porões de navio, da África selvagem. Me lembro dos abolicionistas, de Castro Alves... Quando era pequeno, assisti pela primeira vez a um drama num circo, história de escravidão. Um feitor, um capitão de campo, um senhor de escravos, uns escravos, um chicote... Aderi prontamente ao abolicionismo e festejei, com muita alegria, ali no circo, a libertação dos negros que apanhavam. Suspirei de emoção com as poesias de Castro Alves e, mais recentemente, acompanho a novela  Sinhá Moça, na Globo.

CHICA PASSA BEM

Como nasci no sítio, conheci melhor alguns negros, afeitos ao trabalho do campo. Trabalhavam para o meu pai ou apareciam na porta, pedindo alguma coisa. Não eram mais escravos, eram descendentes humildes, com todos os traços de seus ancestrais. 

"Chica Passa bem" era uma negra forte, falava alto e ria também alto. Me botava nos braços e me chamava de "Joãozinho". Bem humorada, trabalhadeira... Nunca esqueci dela...

"Sivina", ao contrário, não trabalhava nem era alegre. Tinha tudo da raça. Aparecia sempre e, como já tinha liberdade, entrava e ia sentar-se num canto na cozinha, ficando a espera de um bocado, para satisfazer a fome. Falava muito engrolado e os  sons que emitia eram iguaizinhos a fala das velhas escravas que não falavam ainda o idioma português. A intuição que eu tinha era assim: ali estava uma escrava, sofrida, de banzo e tudo, que, misteriosamente, sobrevivia. A minha mãe, que falava a linguagem da caridade, a entendia e, depois de alimentava, levantava-se do chão e, aos tombos, coçando-se ia pelos caminhos, perdida, longe de suas terras. Diziam que tinha mais de cem anos, morava com uns parentes distantes, era mais agregada que da família. "Sivina" morreu, faz uns vinte anos. Penso que nunca conheceu a cidade nem nada da civilização. Por isso, um dia, porque tinha uma máquina fotográfica a mão, resolvi tirar-lhe o retrato: o único de sua vida. Botei um tamborete no terreiro da casa e conduzi "Sivina" pelo braço, ela assustada, mas não podia correr. Foi difícil e longa a espera, para conseguir que ficasse sentada no tamborete, só sabia sentar no chão. Consegui a foto e está aí sendo mostrada, embora pouco nítida, como foi realmente a sua vida.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

Exposição de animais em Garanhuns

Júlio Jacinto da Silva

Pedro Jorge Valença*

Garanhuns viveu dias festivos com a volta da Exposição de Animais, iniciativa de um grupo de produtores rurais, que tiveram a coragem de enfrentar a organização desse evento, que pode parecer simples, mas requer um trabalho cansativo.

Voltando ao passado, quando em janeiro de 1964, um grupo de técnicos organizou a primeira Exposição que ficou junto ao Patronato e do Convento do Bom Pastor.

Animados com o sucesso os criadores encabeçados pelo Prefeito Amílcar Valença foram ao Governador Paulo Guerra que prometeu construir um Parque de Exposição de Animais. A autorização foi imediata e os trabalhos se iniciaram a todo vapor. Tendo a frente o Dr. Haroldo do Amaral e o afinco de Alfredo Martins, Warner Silva, João Pires, Ivo Amaral, José Maria Azevedo, Oscar Pedrosa, João Ferreira, Chico Gueiros e na Cooperativa Pedro Alcântara, Adalberto e Petrônio Fernandes. A madeira foi comprada na Serraria de Zeca Figueiredo e a Prefeitura fazia todo o transporte dos materiais.

Um ano depois o Parque estava pronto e foi dado o nome do Pai do Governador João Pessoa Guerra. Na inauguração estavam presentes todas as lideranças da Pecuária Leiteira: Othoniel Gueiros, Adauto e Abelardo Gomes, Teodoro Povoas, Anísio e Dede Godoy, Lau Ferro, Antônio Ricardo, Manoel Birunda, Luiz Fula, Audálio Tenório, Paulo Maranhão, Airton Diógenes, Ataíde Machado, Manoel Luna, Sr. Curvelo, José Galdino, Luiz Roldão, Severino Pereira, João Bezerra, Aristides Monteiro, Nivaldo Lúcio, Dimas pedrosa, João de Deus, Jarbas Duarte, Júlio Salgado, José, João e Júlio calado, Adalberto Teixeira, Zezinho Almeida, Júlio Jacinto, Antenor Pedrosa, Josa Duarte, Dede e Manoel Candido, Josa Cadengue, Joca Cabral, José Pinto, Lídio, Lolô e Nanam Vaz, Euclides Galindo, João Biliu, Alfredo Cintra, José Mota, Décio Valença, Nelson Galvão, Rafael Brasil, Eronides e João Borrego, Manoel Antônio, José Manoel, José Santana, Galdino Nunes, José Amaro, José Ferreira, Zi Ferreira, Bié, Joaquim e Oscar Francisco, Antônio e Tantão Brasileiro, Artur Ataíde, Zominho Santana, Odilon e Senhor Broca, Chico, Francisquinho, Jorge, Valdemar, José Carlos, Fernando e Edelzito Branco todos eram citados pelo locutor oficial do evento Humberto Granja ajudado pelo garoto Iran Pessoa. A divulgação era garantida, pois Humberto de Moraes e Ulisses Pinto registravam tudo.

O destaque da Exposição era um "reservado" onde Lula e Lola Branco, davam o maior derrame de uísque, sob os olhares de Evandro e Filadelfo Branco que nos intervalos também davam "um tapa no beiço" para se aquecerem do frio. Tanto passava bem os produtores quanto os animais, pois comida não faltava já que Zé Neto se encarregava de trazer capim e cana de Iratama e a fazenda de seu Mica era franqueada para quem quisesse encher os caminhões de palma. (Transcrito do jornal Correio Sete Colinas de setembro de 2007).

Um homem simples

José Francisco de Souza

Dr. José Francisco de Souza*

Era um homem simples e sem complicações. Seu mundo interior era ornado de luz. Projetava-se por meio de uma qualidade importante: a sublime faculdade de escutar. Escutar em todas as épocas sempre foi tarefa difícil. Em geral nunca prestamos ouvidos senão à vez de nosso próprio pensar. Ignoramos que o outro é o nosso semelhante. De modo que na realidade nada nós é comunicado. Esse processo não ocasiona a feliz oportunidade porque transforma o homem modesto em complicações filosóficas.

A cultura livresca torna o leitor bem informado sobre pensamentos esquematizados. Em ideias configuradas em textos e contextos e suas passagens paralelas. Nesse labirinto de palavras a nossa mente fica completamente alheia ao sentido real das coisas. Daí a mera convenção de princípios e ideologia. Faz-se mister sintomático casuísmo de qualidades inerentes à personalidade.

As qualidade são frutos de construção nossas. E nunca poderemos esquecer que a escolha divina começará pelo esforço próprio de cada um. Quando isto se verifica ocorre às nossas intenções que determinam assumirmos novas atitudes perante a vida. Para isso é recomendável é o homem se ilustrar pela sabedoria de autoconhecimento. Essa estrutura se constituíra a ponto de sua aprendizagem. Esse foi o comportamento do nosso modesto homem de letras focalizado neste trabalho jornalístico de hoje e de sempre.

MANOEL GOMES DA SILVA (NÉU)

Nasceu aqui em Garanhuns, na cidade das madrugadas loiras cheirando a baunilha. Serra das Antas, Pau Pombo, Vila Maria, Várzea, Jardim e do Magano de olhos fitos sempre em nós. Néu Rodrigues era o nome consagrado pela comunidade dos amigos de sua terra. Abriu os olhos para a vida à rua São Vicente no dia 5 de julho de 1923. Filho de João Gomes da Silva e sua esposa Dona Custódia, verdadeiro ornamento de graça e beleza moral da tradição familiar da terra das flores. Néu Rodrigues iniciou a sua vida com a mesma profissão de seu pai; barbeiro. Frequentou o Colégio Diocesano onde foi aluno aplicado e estudioso. Procurou sempre ceder à sua vocação para as artes. Gostava de teatro, integrante de elencos de alguns grupos cômicos. Integrou-se em muitos circos, fundador do Teatro Ferroviário do Recife. Integrante do Clube Mágico da Capital do Estado. Técnico em telecomunicação com estágio pela INBELSA. Mestre Maçom pela Loja Legionários de Ordem de Jaboatão. Condutor de trem pela REFESA.

Como se deduz o currículo de Néu demonstrava a recomendável participação de seu espírito, em vários segmentos da sociedade. Foi uma figura de destaque em todos os setores de suas atividades sempre crescente. Casado com Dona Maria Luzinete Cordeiro e pai de numerosa prole. Em todas as circunstâncias se conduzia pela inspiração de seu universo moral. Amigo devotado e sincero, foi nosso amigo e admirador, Declarava alguns dos nossos poemas destacando entre eles "Dentro da Noite". Quando nós e o imortal Luís Maia tentamos uma excursão com o Departamento de teatro de Centro de Cultura Intelectual Severiano Peixoto". Néu nos acompanhou por algumas  cidades de Pernambuco e Alagoas. A sua  psicologia revelava profunda emoção no campo da arte poética.

MANOEL GOMES DA SILVA (NÉU)

Passou a residir no Recife. Exercia um cargo técnico em atividades tributárias pelo Ministério da Fazenda. Sua produção intelectual é admirável pelo autodatismo de sua inspiração. Autor de poemas, sonetos e poesias matuta, acrósticos. Interpretação teatral: Ladra, as Mãos de Euridices e a Louca do Jardim. E no dia 13 de maio de 1985, vitima de um enfarte, faleceu e Jaboatão, onde residia. (*Advogado, jornalista e historiador | Garanhuns, 01 de junho de 1985).

terça-feira, 23 de abril de 2024

Emanuel Tenório de Holanda

Padre Adelmar, Dom Irineu Roque Scherer e Emanuel Tenório

No dia 26 de agosto de 2006, o Colégio Diocesano de Garanhuns, perdeu um dos seus maiores símbolos de alegria, humildade e fé: Emanuel Tenório de Holanda. Foi aluno do Gigante da Praça da Bandeira (Praça Mons. Adelmar da Mota Valença) e nele trabalhou com serenidade e amor, por mais de trinta anos. Sua longa passagem pelo Colégio, como coordenador, foi marcada por um carisma indescritível, um amor inabalável e uma dedicação impressionante. Foi ele que, em 1989, retomou os trabalhos de teatro do Colégio.

Seu Emanuel sempre gostou muito das artes cênicas. Quando adolescente, guiado por Mons. Anchieta Callou e Dona Almira, participou de peças realizadas no Diocesano. Em 1991, voltou aos palcos com a  peça João Simplício, apresentada no 1º Festival de Inverno de Garanhuns. Meses antes, Prof. Carlos Janduy o convidou para fazer parte do elenco de Jesus Alegria dos Homens, a Paixão de Cristo de Garanhuns que estreava naquele ano. Apesar do frio que enfrentaria no Alto do Magano, não hesitou e aceitou o convite de Gerson Lima, diretor do espetáculo, para interpretar Pedro, apóstolo de Jesus. Seu entusiasmo era tanto que contagiava a todos os colegas de cena. Aos 64 anos, lá estava Seu Emanuel com sua energia extraordinária, emanando simpatia e conquistando o coração de todos do espetáculo Jesus Alegria dos Homens, do qual participou por vários anos.


Dentre as tantas homenagens póstumas, prestadas ao Senhor Emanuel, duas foram publicadas no Informativo Diocesano Sempre, edição número 49. Nada mais justo do que registrá-las como prova indelével de quanto este Homem foi e é querido e o quanto contribuiu com sua sapiência e seu jeito especial de ser, para a História do Diocesano.

Um amigo no Céu

E lá se foi meu amigo, Amigo de verdade, Amigo luz, Amigo exemplo. Quanto aprendi com ele! Deveria ter aproveitado mais as lições de vida do seu tempo; mas ainda bem, meu Deus, ainda bem que deu tempo marcar a nossa amizade com uma declaração franca e mútua de afeto e consideração.

Que saudade!...

Saudade que  banha meu rosto...

Saudade de sua atenção, de sua espirituosidade...

Quanta mansidão no olhar e nas palavras.

Quem dera, meu Deus, eu chegar àquela grandeza.

Quis o destino que eu não o visse partir... Nem antes nem depois, mas guardasse dele o sorriso, o abraço, a voz, os conselhos e um pedido...

Agora no céu um anjo a mais (daqueles bem íntimos de Deus).

Aqui na terra foi homem de viver e Fé e a Humildade.

Ganhou um lugar no céu do coração de todos que o amavam e, claro, a compensação Divina.

"Ronca o besouro na flor...

Na flor... Na flor...

Ronca o besouro na flor",

anunciando um amigo no céu.

Carlos Janduy

(Recife, 26 de agosto de 2006)

Ao mestre com carinho 

Quando eu penso em um homem bom, meu paradigma é sempre Seu Emanuel. Ele foi sempre um grande sujeito. Tinha um coração lindo e um sorriso e uma lição para nos dar. Nunca recebeu ninguém de cara feia, cuidava de todos sempre com carinho, como se fôssemos filhos seus.

O Colégio Diocesano não será mais o mesmo; vai ficar o vazio deixado por um homem grande - de ação, de coração, de amor.

Adeus, Seu Emanuel, e continue cuidando da gente ai de onde o senhor está, junto de Deus.

Com muito amor, de sua amiga a quem fará falta o abraço apertado.

Marília Jackelyne Nunes

(Agosto de 2006)

Dele guardaremos este belo testemunho de fé: "Não tenho medo de morrer, porque creio muito em Deus e sei que ele me ama". Emanuel Tenório de Holanda.

Texto transcrito do livro Colégio Diocesano de Garanhuns - Cem Anos de Ciência e Fé - Manoel Neto Teixeira - 3ª Edição - 2015

Foto: Seu Emanuel Tenório fez parte do elenco de "Jesus Alegria dos Homens" de 1991 à 2000.

O castigo do Padre Adelmar

Padre Adelmar da Mota Valença

Clovis de Barros Filho* Texto de 2019

Nas salas de aula havia uma espécie de interfone que captava as vozes dos alunos durante as aulas. Uma tipo de microfone. Numa dessas aulas com a saudosa dona Isaura Medeiros, professora de português eu esta fazendo uma algazarra danada bem acima do normal. Não sei se o recado veio por esse interfone ou alguém entrou na sala e pediu para eu comparecer à diretoria para falar com o padre. Sabendo o que significava uma ida dessas ao gabinete dele. Fiquei branco de medo e quase não conseguia me mexer. Bem, não tive outra alternativa senão atender ao chamado. A classe toda não parava de rir como que prenunciando a fria que entrara. Dona Isaura apressou-se também a mandar-me ir atender ao chamado de Padre Adelmar. Ela certamente já deveria estar sabendo do que se tratava. Relutei intimamente mais fui. Chegando lá, vi que o padre se encontrava datilografando algo. Deu uma breve olhada não disse uma palavra. Fiquei do lado de fora esperando com as pernas bambas. 

O tempo foi passando e ele não falava absolutamente nada. Passada quase uma hora de chá de cadeira, ele repentinamente se virou para mim e mandou-me entrar. Confesso que temi pela minha integridade física tal a cara de bravo do padre. Ele me olhou de cima abaixo e disse: ah! então era você que estava fazendo aquele barulho na aula da professora Isaura? Fiquei quieto e não falei nada. Ele então perguntou-me: Qual o seu número? Eu quase sem voz murmurei que meu número era o 5. Ele então surpreendentemente falou para mim - Eu sabia que seu número só poderia ser mesmo 5 um grande número na roda do bicho (cachorro). Dito isto mandou-me ficar o resto das aulas de castigo em pé no pátio, para que todos me vissem lá. A partir desse dia nunca mais fiz qualquer brincadeira nas aulas. Esse  era o nosso grande e inesquecível diretor.

O blog do Anchieta Gueiros ganha mais um cronista, nosso parente Clovis Barros,  irá abrilhantar nossas páginas com suas memórias sobre o Colégio Diocesano, padre Adelmar e a nossa querida Garanhuns. Seja bem vindo!

*Clovis de Barros Filho tem 68 anos é casado e pai de três filhos. Filho de comerciante e mãe doceira passou a maior parte da sua juventude em Garanhuns. Nasceu na Serra da Prata (Iatecá). Estudou no Colégio Diocesano de Garanhuns do Admissão ao Científico onde concluiu em 1968. Residi em São Paulo desde 1970 e tem a seguinte Formação Acadêmica: Licenciado e Bacharel em Química pela Universidade de Guarulhos e Químico Industrial Superior pelas faculdades Oswaldo Cruz - SP. Profissional: Gerente de P&D da Saint-Gobain Abrasivos onde se aposentou em 2001. Tem como Hobby atual a reforma de carros antigos. Time do coração; Náutico. Jogou pelo Sete de Setembro e pelo Monte Sinai no final da década de 60. Garanhuns é a cidade que mais ama e nunca esquece. Lugares inesquecíveis da nossa cidade: Av. Santo Antônio à tarde em frente a loja  S. Moraes. Pau Pombo aos domingos de manhã. Natal na avenida Santo Antônio. Peladas no Parque dos Eucaliptos.  Missa matinal no Mosteiro. Bolos/doces da Royal. Filmes no Cinema Jardim. Feira da Pitomba na Rua Dom José na Páscoa. O apito do velho trem na estação. Derby Sete de Setembro x AGA.

Revista Cultural O Século - Abril de 2024

Vivendo e aprendendo


Jesus de Oliveira Campelo*

Certa noite sonhei com um grande amigo que deixou este mundo no ano de 1975, na cidade do Recife. Esse momento onírico foi vivido num lugar que eu não conhecia, e esse reencontro mais parecia uma continuação dos tempos passados, apesar de não me lembrar do teor do que foi conversado. Ao acordar, senti uma sensação de felicidade por aquele inesperado acontecimento e, mesmo em pensamento, fiquei relembrando os instantes vividos naquele sonho. Em nossas vidas, existem certos fenômenos que acontecem, mas, que na maioria das vezes passam despercebidos por serem considerados normais e por fazerem parte da própria existência. Um deles é o sonho que convive conosco durante um terço de nossas vidas, que é o tempo que nós passamos adormecidos. No momento em que dormimos, participamos de acontecimentos nunca imaginados; viajamos a lugares conhecidos e desconhecidos, conversamos com pessoas vivas, com outras que já não estão mais nesse plano (morreram), pessoas desconhecidas, sentimos sensações agradáveis e desagradáveis e uma série de outros acontecimentos. Esse fenômeno já está sendo estudado por cientistas entre os quais o professor Ernest. L. Hartmann, na Escola da Medicina da Tufts University, nos EUA. Em decorrência dos trabalhos realizados a partir dos anos 1950, já é possível saber-se, exatamente, o momento em que uma pessoa sonha, por meio do acompanhamento elétrico da atividade cerebral, dos movimentos dos olhos e do tônus muscular. Durante uma noite normal de sono, a pessoa adormecida passa por vários ciclos, formados por quatro e às vezes cinco estágios distintos todos já estudados e analisados. Segundo esse pesquisador, "os sonhos e os pesadelos originam-se na mente de quem sonha e, portanto têm sentido; de alguma forma devem referir-se às memórias das pessoas, a seus desejos, a medo ou a fatos ocorridos recentemente ou não, em suas vidas". O campo que envolve os sonhos esta além do que a ciência pode investigar, pois, está fora do alcance de mente linear. O limite da ciência é a matéria e os sonhos são totalmente anticientíficos. Para compreende-los, torna-se necessário conhecer o sistema de funcionamento das várias mentes de que dispõe o ser humano. Os estudos apresentados pelos cientistas são baseados apenas na mente do corpo físico. Dentro de alguns anos as terapias que envolvem a regressão de memória espiritual deverão ser incorporadas às técnicas normais da psicanálise. Os acontecimentos de fatos pretéritos estão arquivados na terceira mente. Mas, o que é o sonho e porque sonhamos? Será que existe uma razão para os sonhos? A explicação vernácula define que se trata de: "imaginação sem fundamento, sequência de ideias vãs e incoerentes às quais o espírito se entrega; devaneio, fantasia, ilusão e utopia". E os chamados "terrores noturnos", "pesadelos" e o "sonambulismo"?...

Quando o ser humano tiver mais conhecimentos de suas naturezas material e espiritual, e desejar estudar este assunto, verificará que o sonho influi em nossas vidas muito mais do que supomos e que têm uma significação maior do que se possa imaginar. Constatará que o sono é uma porta aberta para que o ser humano possa viajar através de outras dimensões ensejando reencontros com velhos amigos e parentes além de proporcionar viagens a lugares desconhecidos. Nesse estágio, a alma se desprende do corpo, havendo nesse momento uma ligeira suspensão da vida ativa e de relação com o mundo material. Aí começam as viagens a lugares distantes e até mesmo a outras dimensões. As singulares imagens do que se passa ou do que se passou nesses mundos desconhecidos, entremeados de coisas e de acontecimentos da vida atual, é que formam esses conjuntos estranhos e, às vezes confusos, que nenhum sentido ou ligação parecem ter. A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas que apresentam e a recordação incompleta que conservamos do que nos aparece quando sonhamos. Em artigo publicado no dia 25 de agosto último, número 51 deste jornal (Correio Sete Colinas | Garanhuns), foi transcrito o depoimento de um professor de cirurgia da Universidade de Aberdeen na Escócia, que estava hospitalizado com febre tifoide e, estando no limiar da morte, sentiu que sua alma se desprendia do corpo e visitava outras áreas do hospital, tendo assistido uma cena de morte num quarto contíguo ao que ele estava. Após sua reanimação, perguntou a enfermeira que estava à sua frente, sobre o acontecimento que ele vira, e teve a confirmação de que realmente o fato havia acontecido. Como se conclui, a alma pode se desprender do corpo físico e fazer suas viagens por outros lugares enquanto aguarda a liberação final que acontecerá com a morte. Com certeza, existem caminhos que nos levam a estudar e conhecer profundamente esses fenômenos tão importantes para o nosso desenvolvimento material e espiritual; É só procurá-los. (Jesus de Oliveira Campelo é poeta e jornalista | Transcrito do Jornal Correio Sete Colinas de 20 de outubro de 2001).

Os sábados da minha infância em Garanhuns


Marcílio Reinaux*

Os dias de sábado em Garanhuns, na minha infância eram muitíssimo esperados. Alias parece até que - nós crianças - vivíamos a semana inteira à espera dos sábados. Ele era sempre riquíssimo em emoções e tudo mais. Acordar cedo era a primeira preocupação, para ir à feira com quem que  fosse logo cedinho:  Tereza, Julieta ou Linda, qualquer das três empregadas, ou mesmo com Dona Francisquinha, minha mãe. As vezes ela não ia  e mandava uma das "meninas" fazer a feira. Geralmente era Alcione quem ia. Muito cuidadosa com esse assunto,  conhecendo meio mundo de gente na feira, onde tinha os fregueses (ela mesmo uma grande freguesa) da maioria dos feirantes, era  quem dava melhor conta do recado. Economizava e com as amizades comprava do bom e do melhor. Tinha os seus feirantes preferidos: Ovos, só de capoeira de gema cor amarela escura (ainda não havia ovos, de gema branca, "fabricados" nas granjas, aliás, nem tinha granja). Grandes, bonitos, encomendados e comprados com o Seu Quinca, que vinha da cidadezinha de Capoeiras com caçuás cheio de galinhas  (chamadas genericamente de "Galinha de Capoeira") gordas e pesadas. Ovos numa cesta de arame trançado. Uns vinte ou trinta, separados para a "Dona Cione", dizia ele. Carne de  boi, coxão de porco, pernil de bode, toucinho, linguiça e coisas dessa linha, eram compradas na tolda de Armando, o que veio a  ser noivo e depois marido da Tereza, nossa empregada. Não era  sem razão que Tereza sempre queria ir fazer a feira, porque dava "um dedo de prosa" com o Armando. O perigo era demorar e, quem faria o almoço? Julieta cuidava das crianças e a Linda da arrumação. Havia uma quarta, a Judite, mas que não chegou a trabalhar para nós.

Ir à feira cedinho, não empatava ir outras vezes mais durante o dia. Era só ter chance e lá seguia eu para feira. Gostava de tudo: ver os cavalos, carro-de-boi, bodes, carneiros, aves, os passarinhos (principalmente). A pequena ruela atrás da minha casa, nos sábados, virava "estacionamento" de carros-de-boi e de cavalos. Era bosta de bicho para todo lado. Estes animais e seus  carros, não  podiam descer até a Avenida Santo Antônio, iam parando nas proximidades. Daí o grande movimento. Pediam água, descansavam no nosso quintal, usavam o sanitário dos fundos, cujo sifão era aquele tipo francês (chamado Cambronne) fazendo-se cocô acocorado. O cheiro forte do cigarro de palha tomava conta do ambiente. Havia uns mais achegados que comiam alguma coisa que Tereza dava. "É um agrado!", exclamava ela, completando: "Seu Tóta todo sábado trás um jerimum pra nós!".

Na feira eu passava primeiro, invariavelmente na "Agência Reinaux", a loja do meu pai, para vê-lo, ver o movimento, dizer "alô papai" e, se possível receber dele uma moeda de 100 réis, ou  até 200 réis. Era uma festa. Dinheiro para deslanchar algumas guloseimas na feira e ou mesmo pequenos brinquedos de madeira, ou bonequinho de barro, sempre preferidos e desejados. Passar na casa da Madrinha Beatriz era muito bom, como já me referi. Tomar caldo-de-cana com pão doce, pirulitos e alfimin, este  sempre em destaque. Alguém na feira fazia alfimin com formas de  bonecos, animais. Bem branquinhos e deliciosos. Passava no toldo do Tio Chiquinho, marido de Tia Satú, irmã  mais velha da minha mãe Francisquinha. Vinha do primeiro matrimônio da minha avó. A tolda era de "secos e molhados". Um comércio muito variado: charque, querosene Jacaré, bacalhau importado, açúcar preto, rapadura, coloral, arame farpado, óleo de linhaça, cordas de caroá, feijão mulatinho, feijão preto, farinha grossa e fina com e sem goma, arroz, tudo em saco, sal grosso. Mas havia sempre um saco de "carambas" (bolas de açúcar endurecido) muito gostosas. O tio Chiquinho, me dava uma, vez por outra. Por trás da tolda, uma  caminhonete Ford 1929, servia de almoxarifado da grande  barraca, trazia e levava as mercadorias.

Passar na feira de Passarinho, ver as aves, ver os bodes, carneiros e assistir um pouquinho os sempre curiosos espetáculos improvisados do "Homem da Cobra", e do Pracista da Macaquinha, vendendo remédios para os calos. Claro que o macaquinha, chamada Violeta, era apenas o atrativo e era o que me interessava. Remédios para calos, não me interessavam, como era o óbvio. A Macaquinha era muito esperta, vestida com saia e blusa e suspensório, presa por uma correntinha. O pracista dizia: "Violeta, pula peste". E a dita pulava dando cambalhotas no ar. As  vezes ele dava um comando na corrente e a macaquinha, dava duas, três cambalhotas no ar, seguidamente... Lembro-me também de um pracista, dito "Mágico", fazendo mágicas para atrair compradores para o  seu remédio para verme. Tinha uma tábua, assentada num caixote, com um pano em cima, cheia de vidros com vermes. Os vidros eram etiquetados com os nomes dos respectivos verminados. "Olha aqui minha gente", exclamava pegando um vidro: "Ele botou 172 lumbriga, depois que tomou este remédio. Quem quiser pode comprar, se não botar lumbriga, eu devolvo o dinheiro!!!". Para cada um dos vidros ele contava histórias fantásticas.

Olhar com tristeza e até com medo do ceguinho e dos esmoleres, feios, sujos, fedorentos, era realidade que anunciava sempre a beleza do sábado. Uma pena, tanta gente sofrida. Cantorias, gemidos, reclamos, pedidos, implorando e invocando o nome de Deus. Percorrer bem depressa na subida para a minha rua, a calçada com  os pedintes, era exercício necessário. As vezes deixava cair um  tostão, ouvindo-o  tilintar na bacia (por ironia do destino, sempre uma bacia de queijo do reino) de um dos pedintes. Quando isso acontecia, seguia com ar feliz, com a sensação de "perdão dos  pecados", por fazer um bem. Chegando em casa brincar. Almoçar, brincar, e a partir das três da tarde ou quatro, ia ver na rua de trás a saída dos carro-de-boi, com os carreiros, tocando os bois puxando os carros carregados de sacos e caixas. Uma, duas mulheres e ou crianças acomodados sobre a carga e lá iam os carros gemendo. Parecia uma despedida, o soar dos carros-de-boi. Mas apenas diziam: "Inté sábado, menino, se Deus quizé tamo de vorta!". E voltavam...

Com eles e com tudo mais, o meu sábado muito esperado durante toda a semana e também voltava. Chegava sempre com  prenúncios de muita emoção. E o meu coração batia apressadamente para destrinchar e viver tanta emoção em um sábado em Garanhuns.

*Advogado, escritor, pintor e historiador / Garanhuns a Enevoada Pérola Fugidia / Fevereiro de 1999.

Foto: A grande feira de Garanhuns na Avenida Santo Antônio, década  1940/50.

Sebastião Pinheiro

José Francisco

Dr. José Francisco de Souza*

Comportamento de um ser que viveu determinado pelo sentimento. Os contrastes e confrontos ordenavam certos aspectos de sua conduta. Essa aparência das coisas confundia-se com a opção de desejo de alcançar a importância de si mesmo. Isso se constatava pela variedade à busca de segurança.

A variedade que usava no sentido de consolidar um estado social condigno, era a revelação de sua capacidade em prova. Sempre concentrou suas energias à demanda de sua vontade de vencer com dignidade. Jamais usou a deslealdade afim de alcançar os seus objetivos. Sua vida pontilhada de normas racionais preenchia certas lacunas de seu universo mental.

Em pleno domínio da esperança, que para ele nunca mudou de cor, no desabrochar de sua juventude, buscou os hábitos sociais da conduta esportiva, participou como atleta de futebol vestindo a camisa alvi-negra do "Comércio Esporte Clube". Foi um elemento de destaque no seu plantel. Não fora um grande jogador, contudo era destaque indispensável do seu time. Como atleta fora nosso contemporâneo. Sempre alegre, e prazenteiro, digno de respeito pelo exemplar comportamento. Daí, o óbvio que determinou  a nossa orientação neste trabalho.

Quando se conquista o sentimento verdadeiro, o homem torna-se digno de ser lembrado pela memória de seus velhos amigos. É o nosso caso ao sentirmos o vazio de sua ausência.

Caboclo Pinheiro, como era conhecido em todos os segmentos de sua vida social, casou-se e viveu muito bem e pai de dois ornamentos da graça e da beleza da nossa terra, cujas virtudes são destaques à sociedade do Recife. Já por força dessa obrigação, buscou outras possibilidades. Melhorando o seu padrão de vida econômica. Agricultor na Fazenda paterna, alçou um voo e dominou o seu novo espaço. Na época da redemocratização do País, Caboclo Pinheiro era gerente proprietário da "Empresa de Luz" do então Distrito de Brejão, hoje cidade. A política tomava proporções assustadoras entre dois partidos: PSD e UDN. Dois candidatos colhiam a preferência do eleitorado; Dr. Luiz Guerra e Francisco Figueira. Guerra foi o prefeito. 

Aqui, na cidade das flores, Caboclo Pinheiro, participou ativamente de manifestações políticas, sociais e econômicas. Sócio da AGA, onde festejava todos os acontecimentos sociais do seu clube. Agueano cheio de esperança e de entusiasmo e na época muito estimado pelos amigos. 

Ingressou à Loja Maçônica "Mensageiros do Bem", onde se conduzia como um verdadeiro e autêntico iniciado. Muito acatado pelos seus "irmãos". Já, depois de tantas lutas, a ventura econômica deixou de lhe sorrir. No governo de Souto Dourado, passou a trabalhar em um dos departamentos da prefeitura até o final do mandato do referido Edil. A humanidade virtuosa é parte do Universo como equilíbrio das leis.

Sempre altivo e prudente, seu Espírito integrou-se à prova e quase sem visão começou a frequentar a Seara Espírita "Casa Bezerra de Menezes", onde ouvia atentamente os ensinamentos das Obras Codificadas. 

Até que foi se aproximando o dia  de sua libertação espiritual. E em dias do mês de fevereiro (1986) desencarnou. Seu corpo foi velado na Loja Maçônica e sepultado no cemitério São Miguel, nesta cidade. Era nosso amigo e da nossa família. A sua viagem nos proporciona lembranças e gratas recordações. É mais um amigo que se foi. (*Advogado, jornalista e historiador | Garanhuns, 22 de março de 1986 | Jornal O Monitor).

segunda-feira, 22 de abril de 2024

José Dona


Procedente da localidade conhecida como Santo Antônio do Tará, no Sertão pernambucano do Pajeú, na década de 30, aqui fixou residência o Senhor José Francisco da Silva (saudosa memória), conhecido  como José Dona, em companhia de sua genitora, Cecília Maria dos Prazeres, viúva de Laurindo José da Silva, com mais 5 filhos. Conta-se que naquela época e população vivia sobressaltada, tendo em vista as incursões e constantes ameaças com perigo iminente de enfrentamento, com a chegada do cangaceiro Lampião naquela região, sendo o motivo principal do afastamento de toda família, que resultou na perda das terras pertencentes aos mesmos. D. Cecília mulher determinada, corajosa, abandonou suas terras de sua herança e se afastou para sempre daquele local, fixando residência nesta cidade, à Praça Dom Moura, com seus filhos, com idade avançada, boa saúde, como "mulher rendeira", sabia dominar com maestria os bilros e diante de vários desenhos, inúmeros alfinetes, produzia rendas, com resultados lucrativos, como exemplo de dedicação e amor ao trabalho, em prol da criação dos filhos, seus dependentes. Seu filho José Dona, logo seguiu  ao Sul do País, onde permaneceu em São Paulo, em convivência com uma família de classe média, quando lhe foi possível vivenciar e lapidar os seus costumes e abrir novos horizontes em sua vida. Ao retornar dedicou-se ao trabalho na Companhia Industrial de Beneficiar Algodão e Fabricar Óleo, Usina de Garanhuns, da Trajano S. V. de Medeiros, que ocupava toda a área que ora se acham instalados: o Centro Administrativo Municipal, Câmara Municipal de Vereadores, Promotoria de Justiça de Garanhuns, 18ª Delegacia de Polícia de Garanhuns, Tribunal de Contas do Estado, ADAGRO (Agência de Defesa Agropecuária de Pernambuco) e IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco - Gerência Regional). Sua permanência naquela fábrica ocorreu em clima de amizade com o seu colega Adelmar da Mota Valença, o qual ainda não tinha escolhido a nova profissão, que viria a ser Padre. Em determinado dia os dois saíram dirigindo um  caminhão pertencente à Empresa, sem autorização, havendo uma pequena batida, com prejuízo de pouca monta, os quais tiveram sorte de não sofrer penalidade. Aos 32 anos de idade, no ano de 1937, contraiu matrimônio com  Anália Barbosa da Silva (saudosa memória), e logo se tornou comerciante de miudezas, fixando residência à Rua Professor Amaury de Medeiros, nesta cidade, onde permaneceu até 1949, já em companhia de quatro filhos dos cinco nascidos por graças de Deus.

No mesmo ano adquiriu uma casa à vista, que pertencia ao  Sr. Moisés Valadares, situada à Rua 15 de Novembro, centro, nesta cidade. Tratava-se de uma pessoa humilde, alegre, determinado, corajoso, trabalhador, um  pai exemplar, sempre pontual em seus compromissos assumidos, com pagamentos à vista, não aceitava compra a prazo. Chegou a ser agricultor em parceria com o seu cunhado, o comerciante Francisco Faustino de Albuquerque, que durou pouco tempo. Também exerceu a profissão de mascate, inicialmente com vendas de miudezas, participando das feiras livres, em vários distritos deste município e posteriormente com produtos industrializados, graças à pequena indústria de doces que aqui manteve por longo tempo, que surgiu da seguinte forma.

Garanhuns sempre foi o berço de imigrantes dos países do Oriente Médio. Aqui fixaram residência de procedência árabe, as famílias Kalil Mansu, Zaidan, Tuffi, Zobi, etc. José Dona manteve amizade com o Sr. Tuffi, de idade avançada, que sempre recebia em sua residência nas quartas-feiras, para almoçar, ocasião em que o visitante gostava de beber, de sua preferência, Zinebra (ou Genebra, Cinebra ou  ainda Sinebra), bebida com a composição de Zimbro, planta que nasce e cresce no deserto. No decorrer do almoço, o mesmo voltou-se para o seu amigo e disse-lhe: José vou te ensinar uma técnica oriental para o fabrico de doces de  vários tipos e modalidades. Alertou que o Sr. José não ficaria rico, entretanto, daria o suficiente para manter a família e educar os seus filhos. Assim aconteceu, sendo que no início houve dificuldades, decorrido algum tempo, as coisas foram se ajustando e seguiu o seu rumo normal. 

Sempre preocupado com o bem estar da família e da educação dos filhos, os quais foram educados em escolas particulares, com sucesso. Ofertou aos filhos, Curso de Contabilidade, Curso Científico e Curso de Datilografia, este com duração de um ano; ofertou aos filhos o livro de Cassimiro de Abreu, com recomendações para sempre ler e memoriza-lo. Aos domingos em traje formal, com uso do chapéu "Prada",  frequentava missa na Catedral às 9:00 horas, ministrada pelo Bispo Diocesano, ao regressar para o almoço, trazia consigo, o Jornal da Capital, e na parte da tarde visitava os doentes baixados no Hospital Regional Dom Moura. Jamais deixou de fazer doações, alguns trocados (níqueis) a quem o pedisse. Seus exemplos e conselhos foram marcantes, aos 69 anos de idade, teve problemas com a vesícula, que se descuidou apesar dos cuidados do Dr. Luiz Lessa, e os conselhos recebidos, certamente teria evitado o mal maior, não foi possível evitar o seu passamento. Por ter sito sempre correto, honesto, responsável, em suas ações que procurava realizar, que serviram de bons exemplos para seus filhos, houve outras facetas bem interessantes, que deixo de expor, por falta de espaço. Finalizo, em confessar que esta pessoa que acabo de apresentar-lhes, trata-se de meu pai, a quem o agradeço pelo feliz ambiente familiar, boa vivência e convivência educacional que muito contribuiu para minha formação profissional, que me proporcionou uma longa caminhada por este imenso pais, muitas vezes no enfrentamento de lugares e momentos hostis, com feliz sucesso. O meu eterno agradecimento. 

*Valdemir Barbosa / Jornalista e historiador / Texto transcrito do jornal Cidade de 21 de Junho de 2014.

Foto: Garanhuns, PE - Praça Dom Moura na década de 1950.

Josemir Correia

Garanhuns Antiga/Praça João Pessoa

Texto de Alberto da Silva Rêgo

Josemir Rosa Correia (Seu Mir) - Tinha por hobby o jornalismo. Autodidata, sabia como fazer "comunicação para as massas". Possuía o senso perfeito na hora de despertar emoções, o valor do "título" na notícia e, sobretudo, a manchete sensacionalista, como forma de chamar a atenção para o que está escrito. Sabia explorar o oportunismo do acontecimento do dia-a-dia. Deleitava-se nas suas migrações jornalísticas. Não era o homem do artigo de fundo. Da crônica social. Mas, o noticiarista dos fatos potencialmente emocionais. Não podia passar muito tempo, sem ter um jornalzinho para destemperar o seu gênio irrequieto. Não se subjugava ao formalismo social, tampouco que algemassem os seus pensamentos. Um jovem travesso, procurando sempre algo para realizar, não se amoldando aos esquemas políticos de obediência cega - integralismo e comunismo, criticando, sistematicamente, os princípios em que o "padrão-ouro" é o que governa, alienando a moral, o justo, o direito de viver livremente. No diálogo defendia com firmeza os seus pontos de vista. Intransigente, era dos que afirmam: "Sou vencido, mas não convencido". Foi diretor e redator-chefe de inúmeros jornais, vários humorísticos, de vida curta: O "Tic Tac", "A Semana", "O Quarenta e Cinco", "O Binóculo", "A Fuzarca", "O Pequeno Diário", "O Combate", "O Jornal do Povo" e outros. No O Combate, tendo por companheiro Jaime Luna, José Francisco e Luís Maia, dando oportunidade a "Zé Francisco" e outros desejosos de entrarem na imprensa matuta.

No setor do jogo bretão participa do "Centro Esportivo", "São Cristóvão" e chefia embaixadas de futebol às cidades circunvizinhas. Na AGA, fundador e 1º Secretário da Diretoria no ano de sua instalação. Josemir também está no mundo literário, ocupando no Centro Severiano Peixoto a cadeira de Djalma Trindade. Mas, um dia, Seu Mir verifica que tudo o que fizera, em realidade, não lhe estava propiciando uma base econômica em relação ao seu futuro. Resolve então entrar no cotidiano do trabalho. Até então, era um moço despreocupado da realidade do mundo. O pai abonado, comerciante na cidade, além de agricultor e posse de inúmeros imóveis que lhe davam rendimentos razoável, permitia-lhe uma vida folgada. Mas, o melhor era ir cuidar cedo da vida. Então entra na área de transporte coletivo, formando uma Empresa de Transporte de Passageiros Garanhuns-Recife e vice-versa. Concorrente de João Tude, não teve condições de competir. Decide estudar. Em alguns anos consegue o diploma de cirurgião-dentista e vai clinicar no Recife, na Rua Velha. Com condições mais estáveis casa com Maria Amélia Caldas.

Josemir faleceu no Recife, em 17 de agosto de 1954. Seus pais foram: José Gregório da Silva Correia e Aurélia da Silva Rosa Correia. (Texto transcrito do jornal O Monitor).

Jânio, Lott e Adhemar de Barros


Texto de Otávio Augusto

Nos capítulos anteriores, por causa da circunstância de ter me envolvido muito na eleição de 1963, deixei de comentar Garanhuns nas eleições de 1960 e 1962. A de 1960 foi a eleição que basicamente envolveu três candidaturas: A de Dr. Jânio Quadros, a do Marechal Teixeira Lott e a do Dr. Adhemar de Barros. Há de ser dito que Dr. Jânio ganhou a eleição, mas para mim, em Garanhuns, a mais importante foi a do Senhor Adhemar de Barros. É que o coordenador dessa campanha foi o Sr. Edu Carlos Silva, dono de uma farmácia na cidade, e que, segundo dizia, tinha um irmão que era médico, havia estudado em São Paulo e tinha sido ajudado nos seus estudos pelo Dr. Adhemar de Barros. É importante que se diga, também, que o Sr. Edu Carlos Silva era irmão do Padre Hosana, que por volta de dois anos havia morto, o Bispo Dom Expedito Lopes, fato que transtornou toda Região, pois que, Garanhuns é uma Diocese que envolve várias paróquias.

O Sr. Edu Carlos Silva não tinha votos e não tinha como divulgar o nome do Sr. Adhemar de Barros, razão por que procurou se aproximar dos estudantes, notadamente da UEG - União dos Estudantes de Garanhuns, que à época era presidida por um rapaz honrado e seríssimo chamado Antônio de Pádua Fernandes Rocha. Queria o coordenador da campanha que Antônio, como presidente da UEG, subisse no palanque de um comício que seria realizado na Rua Severiano Peixoto e em nome da instituição (UEG), apoiasse o nome do Sr. Adhemar de Barros. Antônio não topou e a batata quente caiu na minha mão, pois um bocado de estudante um pouco mais velho do que eu gostava de praticar futebol de salão e me pediu que negociasse com o coordenador da campanha a liberação de umas madeiras para fazer as barras de que eles necessitavam para a prática do esporte.

Eu achei graça... e fui conversar com o dito cidadão que de imediato, concordou, pois era evidente que ela não tinha ninguém, para fazer o comício com ele. Quando cheguei ao comício, não havia mais de 50 pessoas no palanque que era uma caminhão e encontrava-se o coordenador, um locutor, um sanfoneiro e um professor da cidade, que não sei por que carga d'água aderiu àquela candidatura. 

A campanha do Marechal Lott foi comandada pelo PSD e a do Dr. Jânio foi dirigida pelos lideres da UDN, entre os quais o Coronel Figueira, que era o seu líder maior. Ao final destacou-se também pela sua atuação destemida e muito populista o então vereador José Cardoso, que logo depois viria a ser deputado por Garanhuns. (Recife, janeiro de 2008 | Texto transcrito do jornal A Gazeta de Bom Conselho).

Foto: Setembro de 1960 - Jânio Quadros em campanha presidencial, sentado ao lado de Antônio Figueira, na casa do ex-prefeito de Garanhuns, Cel. Francisco Simão dos Santos Figueira. Naquele dia foi realizado um grande comício em nossa cidade, onde estiveram presentes o  governador Cid Sampaio e várias lideranças políticas de Pernambuco e do País. Jânio Quadros foi eleito presidente em 3 de outubro de 1960, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL, para o mandato de 1961 a 1965, com 5,6 milhões de votos - a maior votação até então obtida no Brasil - vencendo o marechal Henrique Lott de forma arrasadora, por mais de dois milhões de votos. Governou o Brasil entre 31 de janeiro de 1961 e 25 de agosto de 1961, data em que renunciou.

Que futuro terá o passado de Garanhuns

Garanhuns antiga | Feira livre na Avenida Santo Antônio

João Marques*

Nasci em Garanhuns, mas de forma de poder vir sítio para cidade. Nasci e só pude conhecer a cidade aos 9 anos. Tantos anos passados agora e continuo conhecendo sempre. Ocupo-me em entender melhor o mundo, que se configura nestas ruas confusas de minha cidade. O meu mundo de crença e religião, das calçadas por onde sigo. Santo é quem me cumprimenta. E, às vezes, um veículo chega a parar para me dar passagem. É como se estivesse adentrando o céu, tal a felicidade que sinto pela civilização adiantada da gente indo para lá e para cá, entre estas praças de flores.

Por todos os lugares, vou encontrando o passado. Perdeu a condição de ir em frente. Fica circulando em volta, na intenção pura de ser visto e lembrado. Ser lembrado e guardado não é apenas da satisfação humana, todas as coisas pensam assim. Existir, acontecer reúne alguma dignidade. A memória há de contemplar a existência do que é e principalmente do que foi.

Assim, o trem de que ficou só a estação, não esqueço nunca. O bueiro do antigo serviço de água e luz de Garanhuns. Tinha um apito de fábrica grande e de usina. Soava ao meio dia. Os sinos das igrejas tocavam também. A Rádio Difusora tocava, para se ouvir nos rádios, um gongo que dava 12 batidas. O meio dia era festivo. A cidade acontecia.

Um tempo diferente. E que a cidade perde à medida da chegada do futuro. É da elevação do espírito do homem lembrar e não se desmoronar com o passado. A história tem papel importante no desenvolvimento intelectual. Os povos mais civilizados não esquecem a sua história. Ela é ensinada nas escolas, são comemoradas as datas importantes, a própria cultura e costumes não são  feitos sem as lembranças do passado.

Garanhuns esquece os seus homens ilustres, os acontecimentos relevantes, as instituições e os esforços no sentido de engrandecer a cidade. Perguntem aos jovens daqui quem foi Humberto de Moraes, Maurilo Matos, Augusto Calheiros, Arthur Brasiliense Maia, Alfredo Leite Cavalcanti e muitos, que não sabem. E o pior é que não aprendem a gostar de sua própria história. Há completa desvalorização do Garanhuns passado, por estudantes, professores, muitos jornais e pelas autoridades representativas do Município. Eu, entretanto, continuo conhecendo a minha cidade e preocupado com isto: Que futuro terá o nosso passado, se não se valoriza o presente, com dignidade. Que passado? Que Garanhuns? Que futuro terá a cidade de meus 9 anos.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

Luiz Carlos, o farmacêutico

Luiz Carlos de Oliveira

Marcílio Reinaux*

Esta crônica é uma homenagem ao Farmacêutico Luiz Carlos de Oliveira

O nosso estimado Alcaide, homem público que tendo apenas uns poucos anos de vida pública, tem prestado a cada dia da sua administração, relevantes serviços à Garanhuns, tem um perfil excepcional.  Ele tem sido e continuará sendo, um político que maneja com desenvoltura as armas dessa atividade multimilenar, que é arte de governar pessoas e cidades e administrar a coisa pública. Mas, Luiz Carlos de Oliveira, o Prefeito, é e continuará sendo sempre o cidadão de fala mansa, gestos discretos, atitudes delicadas e respeitosas. Possuidor de um conjunto de atributos que o caracteriza como um homem marcado por caráter escorreito, sempre acompanhado pela fidalguia e pelas atenções que dispensa à tudo e à todos. Seu perfil tem a singeleza de homem de bem, voltado para o mourejar na faina diuturna pela sobrevivência, buscando fazer o melhor para o próximo. Por isso a sua personalidade, sobremodo autêntica, é aquele de quem vê no homem simples, a cidadania pelo seu princípio mais valioso que é o da respeitabilidade. O respeito ao próximo. Isso ele tem sobejamente.

Porém o traço profissional marcante de Luiz Carlos de Oliveira é característica da sua vida de homem de negócio, que tem seu perfil moldado por vários anos, no amálgama do cadinho da vida como farmacêutico, por traz do balcão da sua "tenda" Santo Antônio", conversando a atendendo amigos e fregueses conhecidos e desconhecidos. Ele tem e deve ter com certeza - muitas histórias e "estórias" para contar. Afinal por traz de um balcão de farmácia se escuta muitas coisas e até confissões "inconfessáveis". Sempre imaginamos que o Farmacêutico e sua farmácia, formam uma espécie de "Oráculo de Delphos", para onde se concentram os pedidos, súplicas e até mesmo lamentações de boa parte da coletividade. Pela natureza daquela atividade sumamente humanística, voltada até para uma concepção quase de filantropia, as experiências devem ser ricas por excelência.

"Seu Luiz, o Sinhô pode vê minha pereba?" É provável que alguém já lhe tenha feito esta indagação. Sua cabeça e sua memória privilegiada carregam um manancial de informações de coisas, fatos, pessoas, e é bem de ver. casos e "causos", bem como pedidos de informes sobre medicamentos, aqueles de nomes difíceis e complicados de se entender.

Aliás farmacêuticos é uma das raras figuras que por necessidade profissional gostam de ler as famigeradas bulas de remédios com aquelas letras microscópicas, de nomes compridos e complicados. Só muita paciência. É melhor não ler e perguntar ao farmacêutico: pra que serve? E ele certamente vai informar. Melhor é entender para que serve o remédio do que procurar entender a sua composição química. Aliás bem antes da Química Farmacológica (do grego "pharmakon" medicamento), da nossa modernidade, nossos antepassados já receitavam seus familiares com a orientação historiográfica da medicina natural. Todo mundo sabe, todo mundo conhece uma planta, uma raiz ou uma casca de pau, que serve para alguma doença. É a Farmacognosia, que é parte da Farmacologia que estuda e identifica os medicamentos de origem vegetal e ou animal.

Nosso amigo Farmacêutico Luis Carlos, o Prefeito, deve conhecer algumas centenas dessa farmacopeia maravilhosa que a vida nos ensina à todos. No meu tempo de menino, (e também no tempo dele), as ervas, raízes, folhas, frutos, e casca de pau eram medicamentos para muitas doenças. Quem não lembra por exemplo, que Boldo é para o fígado? A Colônia para calmante, Sassafrás para reumatismo e o Alecrim para dentição. Remédios mais conhecidos da época era: o Lactargil,  depurativo infantil e o Phimathosan para tosse. Sempre lembrando o famoso Emulsão de Scott, de gosto horrível, ou como o Leite da Magnésia enjoado até no nome, também sem gosto de nada. Uma caixinha amarela com um desenho de um homem carregando nas costas um peixe enorme, era um dos piores: "Óleo de Fígado de Bacalhau", ruim que só a peste. E o purgante "Óleo de Rícino"? Em compensação havia algumas plantas gostosas até no nome como a Erva-doce, em forma de chá, bom para a enxaqueca ou o chá de Capim Santo, ou de Erva Cidreira ambos um santo remédio para a barriguinha das crianças. Perpétua Branca era para asma e uma plantinha de nome esquisito: "pega-pinto" que diziam servir para a uretra. As senhoras usavam a planta Jurema branca para banho e asseio íntimo. Quem ficava rouco era aconselhado a mastigar semente de romã. Intestinos desarranjados?  com certeza eram curados com caroço de jucá ou um chá de folha de goiaba. Já os rins se davam bem com chá de carambola (ou mesmo chá de "quebra-pedra", para cálculos renais e a mororó servia para todo tipo de fraqueza.

Derrame cerebral poderia ser evitado com semente de Inhame, tomando-se também semente de gergelim para os nervos e a cheirosa canela servia sempre para os estômago também em forma de chá. Gitó era para reumatismo e a malvarosa servia para fazer lambedor contra tosse e rouquidão. Uma porção de bom-nome poderia ajudar os intestinos "preguiçosos". A fraqueza do cérebro e ou esquecimento poderiam ser tratados com sementes de jerimum torradas e comidas com um pouco de sal. Pedra-ume para lavagem e asseio, ou para pequenos cortes e a raspa de catingueira servia para fortificar os nervos. O cheiroso eucalipto (do Parque Euclides Dourado) em um chá bem quente nas noites de frio, sempre serviu para febre e resfriados. A salsa para alergia e o velame para o reumatismo. Alguns grãos de alfazema queimada na brasa provocava aquele cheirinho gosto de quarto de recém nascido. Perfumava-se as roupinhas com a alfazema, que tem cheiro de neném. Qualquer pessoa que tivesse muita secreção nos pulmões podia tomar cambão que a cura chegava.

Tudo isso e muito mais, com certeza está guardado na memória de Luiz Carlos de Oliveira, que antes de escrever suas memórias de político, deverá escrever sua telúrica vivência de farmacêutico e homem do povo. Com certeza o que está "armazenado" é uma "Herança muito Rica", entrelaçada em "Retalhos do Cotidiano", disso ninguém tenha dúvida. (Marcílio Reinaux e jornalista e escritor | Recife, 12 de agosto de 2006).

Luiz Carlos de Oliveira faleceu na tarde da segunda-feira (12) de setembro de 2022 no Hospital Monte Sinai. O ex-prefeito de Garanhuns e empresário no ramo de farmácia tinha 76 anos de idade.

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