segunda-feira, 29 de abril de 2024

Memórias de Garanhuns


João Marques* 

Temos história e natureza valorosos. O inverno é bom, o verão é um intruso. Aqui ninguém gosta de calor e reclama-se mais do incômodo. A cultura artística e literária não é a do passado - dizem!... Pelo menos, eu acho, a participação era melhor. Atualmente, poucos escrevem (sendo mais restrito a esta arte) e pouco leem. Mas, felizmente, Garanhuns ainda  não perdeu a fama de cidade de cultura. Temos, sem dúvida, pessoas cultas... muito modestas, introvertidas como a personalidade artística do lugar quer.

Por este dia, transcrevo o que escreve alguma gente viu na revista da AABB, sob o título De Lindas Flores, Luís Jardim, Poesia. Saiu sem o meu nome. Agora fica sabido que a autoria é minha. Teve mais coisa, contudo, fica só esclarecido esta matéria. O estilo certamente já me identifica... No próximo parágrafo, a matéria  sobre o tempo de instalação da agência do Banco do Brasil em Garanhuns:

No ano que foi instalada a agência, circularam, em Garanhuns, os jornais "O Norte Evangélico", com oficinas próprias. "O Imparcial" e, em comemoração ao primeiro centenário da independência do Brasil, saiu, compreendendo os anos 1922/1923, o "Álbum do Município de Garanhuns". Foi um tempo de muitas atividades culturais. É curioso, por exemplo, neste mesmo ano de 1923, "O Imparcial" publicava, assinado por Amadeu Aguiar, artigo repudiando o movimento modernista de 1922. Apesar dessa matéria, fiel à forma literária e artística antiga, poucos anos depois, em 1930, Luís Jardim e José Hibernon Wanderley criavam a "Revista de Garanhuns", aderindo ao movimento moderno, iniciado por Graça Aranha. A revista trouxe, pelos seus três únicos números do garanhuense Luís Jardim, mais tarde, radicando-se no Rio de Janeiro e se tornando escritor de fama. Outra importante publicação foi o "Almanaque de Garanhuns" em 1936 e 1937.

Por esse tempo ou, mais precisamente, nos anos de 1940, foram famosos os encontros festivos no casarão de Tomaz Maia, D. Argentina, que ainda mora em Garanhuns, viúva de Luiz Nunes, que trabalhou na agência por muitos anos, lembra das festas e da participação dos funcionários do Banco da sociedade. A "Galeria Ítalo-Brasileira", café e restaurante "chic", do italiano Emílio Notaro. O local das grandes reuniões de época. Políticos, intelectuais, a gente toda da sociedade iam encontrar-se lá.

O "Cinema Grossi", no tempo do cinema mudo, lembra, ainda hoje, o antigo comerciante Manoel Gouveia. Enquanto passava o filme, o velho Ariosto tocava no piano. Ah! o "Grêmio Polimático de Garanhuns"... Sabia muito. O que sabia mais, todavia, era teatro. O grupo cênico, formado por pessoas de destaque da cidade, tinha sede no próprio cinema. Sempre se apresentava, com a casa cheia. Foi uma grande atração da época. Do grupo de amadores do teatro, participou Manoel Gouveia. Alfredo Leite Cavalcanti, que atualmente é o nome do Centro Cultural, por ter sido o principal historiador de Garanhuns. E, finalmente, apenas mencionando os nomes mais conhecidos do público, o inesquecível Augusto Calheiros, cantor que fez sucesso, depois em todo o Brasil. Apelidado "Patativa do Norte".

Sob o título "Revista de Garanhuns", o Diário de Pernambuco noticiou, através de um comentário elogioso, o aparecimento do órgão literário. O assunto novamente, por ter sido um grande trunfo da época: Garanhuns nivelar-se aos maiores centros culturais, nos primeiros tempos da agência do Banco do Brasil. A transcrição está no livro já mencionado, "Garanhuns do Meu Tempo". (O autor não disse a data do jornal).

"Recebemos um exemplar do número inicial da "Revista de Garanhuns", bem feito mensário publicado em Garanhuns sob a direção de Hibernon Wanderley.

Iniciativa arrojada chega a ser como bem diz em artigo de apresentação, um poema de audácia.

Realmente, e infelizmente, o nosso Estado, apesar de sua vida intensa, suas condições de progresso, ainda não pôde manter uma publicação dessa natureza que não fosse custeada pelo idealismo e alguns sonhadores dispostos ao sacrifício de grandes fadigas a troco de parcas e inócuas compensações.

Isso que, na capital, é uma temeridade, numa do interior, ainda progressista, como a de Garanhuns, chega a ser um arrojo de assombrar.

Por isso, os que fazem o nosso mensário, interessante como se apresenta merece parabéns e os clássicos votos de prosperidade, muito sinceros.

A "Revista de Garanhuns", contém farta matéria e apresenta-se, material e intelectualidade, modernizada, com ilustrações de Luís Jardim e desenhos de Manuel Bandeira e Joaquim Cardoso.

Somos gratos ao exemplar que nos foi remetido."

(Texto transcrito do jornal O Monitor de 10 de fevereiro de 1995).

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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