domingo, 5 de maio de 2024

Curso Científico em Garanhuns

Padre Adelmar da Mota Valença

Surge uma nova fase logo me apontou novidades, de horários diurnos e noturnos e fui logo encaminhado para o trabalho, que viria a contribuir para minha sustentação nos estudos e abrir novos horizontes da vida. As aulas sempre ministradas na parte da noite, de 2ª a 6ª feiras, com término as 22:40 hs. Aos sábados pela manhã haviam aulas que complementavam o currículo. Meu pai era dotado de uma visão do futuro, preocupado pela educação de seus filhos, perguntou se eu aceitaria um instrumento de cordas como presente (cavaquinho), não recusei, entretanto expliquei que não tinha habilidade para tal uso. De pronto me ofereceu um Curso de Datilografia, com duração de um ano, no próprio Colégio Diocesano de Garanhuns, sob a orientação das professoras e examinadoras Anita da Mota Valença e Elzira Pernambuco, quando então alcancei sucesso em 2 de dezembro de 1952, data da conclusão do Curso, que me deixou apto para exercer as funções inerentes à profissão, em virtude do que me foi conferido o competente diploma, devidamente assinado pelo então Diretor Padre Adelmar da Mota Valença.

Outra vez fui indagado se aceitaria trabalhar no Banco do Brasil S.A. como aprendiz. Como nunca sentira atração pela carreira bancária, que forçosamente teria que seguir o Curso de Contabilidade e decididamente não aceitei a oferta. Naquela época as coisas aconteciam no âmbito interno do próprio estabelecimento bancário. O aprendiz era acompanhado de perto, os seus méritos eram apreciados e a sua capacidade contribuía para as promoções que sucediam até alcançar o gerenciamento. Finalmente fui informado pelo mesmo que surgia uma oportunidade de trabalho, como datilógrafo, no Primeiro Cartório Civil, sob a orientação de Nelson Galvão. Com pouco tempo de permanência, fui orientado para ser transferido para o Segundo Cartório Civil, do Sr. Mário Lopes Monteiro. Na cidade ainda existia o Terceiro Cartório Civil, do Sr. Acácio Luna.

Todos prestavam serviço em áreas comuns, ou seja,  civil e criminal, sendo que  o Segundo Cartório Civil ficara com a parte eleitoral, e o Primeiro Cartório Civil, com registros de  Títulos, Notas e Documentos. A minha permanência foi muito proveitosa e gratificante, uma vez que desenvolvi a profissão de datilógrafo, aquisição de conhecimento relacionado aos diferentes formatos de processos em circulação, a ponto de na área criminal, tomar parte de audiências de interrogatórios de réus, inquisições de testemunhas de defesa e acusação, como datilógrafo, sob a presidência dos  Juízes de Direito, Dr. Lito de Azevedo e Silva Filho e Dr. Carlos Alberto Pedrosa Marinho, das 1ª e 2ª Varas respectivamente, fui aceito pelos titulares das Varas, como substituto de Semírames B. Vilela, que na realidade era impossível seu comparecimento nas diferentes audiências, face à afluência de serviços, sempre fui envolvido, mesmo não sendo serventuário da justiça. No ambiente de trabalho tive a honra de ser colega de Zorildo da Silva Régis.

Naquela época desenvolvi trabalhos na carteira criminal, durante a ausência de Edvaldo Lopes Monteiro, Substituto do mesmo cartório, responsável pela área criminal. Foi com muito prazer que prestei meus serviços num ambiente  onde contei com Semírames B. Vilela, escrevente; Nair Vilela da Rocha, Contadora do Juízo; Delba Leopoldino Cardoso, Distribuidora do Juízo; Roboão José de Souza e Manoel Teodósio  da Silva, ambos Oficiais de Justiça. O relacionamento com vários advogados atuantes era da melhor forma possível. Minha  remuneração era ínfima, não dava para cobrir as mensalidades do Curso que frequentava a nível segundo grau. No horário do lanche, tinha que ser com moderação, o dinheiro sob controle para poder frequentar os cinemas em fins de semana a escolher, Glória, Eldorado, Veneza ou o Cine Teatro Jardim. A turma do Curso Científico, era constituída de 18 colegas, denominada "A Nata do Diocesano", durante os anos de 1955 a 1957, comigo fez parte Mário Matos Filho, Sebastião Basílio, Antônio Dalvanci, Plínio Salles, Manoel Paulo de Miranda Filho, Fernando Brasileiro, Carlos Dechamps e outros. Fui  consultado pelo titular do Cartório, sobre as minhas intenções de continuar meus trabalhos, numa perspectiva funcional que dependeria de influência  política para galgar uma função, digamos ser escrevente, caso favorável de se chegar a ser substituto. Daí me veio à decisão íntima de esperar terminar o tempo de colégio, com a conclusão do 2º Grau em 16 de dezembro de 1957 e seguir em direção ao quartel, começar a dar os  primeiros passos, marchando como soldado, uma vez que minha vontade inicial seria ingressar na Aeronáutica, para me tornar um piloto. 

Antes do meu afastamento do cartório, houve uma mudança de titularidade, quando me foi possível trabalhar por pouco tempo, com o novo escrivão, Sr. Sebastião de Azevedo Jacobina. Foi necessária a minha mudança de Garanhuns para Recife, de forma que no dia 20 de junho de 1958, fui incorporado como recruta na Segunda Companhia de Guardas, ponto de partida para uma longa caminhada pelo imenso País, que durou 33 anos de serviços prestados ao Exército Brasileiro. Foi possível alcançar o posto de Major na Reserva Remunerada em 1991. Sou filho desta terra com  muito orgulho.

*José Valdemir Barbosa / Jornalista e historiador / Transcrito do Jornal Cidade de 23 de março de 2013.

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