Humberto de Moraes, o jornalista de Garanhuns

Humberto Alves de Moraes

João Marques*

Conheci Humberto de Moraes, como toda cidade de Garanhuns o conhecia, na década de 1950. Era o seu nome, Humberto de Moraes, subscrevendo originais de crônicas e noticiários radiofônicos, e matérias noticiosas, também, nos jornais impressos. Era o jornalista de todas as notícias da cidade e da região. E o conheci pessoalmente em reunião domingueira do Grêmio Cultural Ruber van der Linden.

Ainda jovem, era um homem magro, rosto escavado vestindo sempre paletó de aparência amarrotada. Atento, circunspecto, falava a todos e cumprimentava. Via-o sempre na avenida Santo Antônio, pelas calçadas, cafés e bares. Caneta a mostra, no bolsinho do paletó, e papel onde ia tomando nota dos acontecimentos e do que via. Esse é o perfil memorável que dou do jornalista.

Com a convivência, nos encontros intelectuais principalmente, passei a conhecer melhor Humberto de Moraes. Tornamo-nos amigos e membros do Grêmio. E pude integrar-me modestamente à campanha permanente que fazia, em favor da cultura e da defesa de Garanhuns. Aprendi muito com esse homem de escol, mas nunca o substituir em sua dedicação e melhor trato a toda a gente. Exercia o jornalismo, com vocação e competência. Amante da justiça, do trabalho e da honradez. Pôde, com brilho, exercer a sua profissão, pela Rádio Difusora de Garanhuns, por muitos pelo jornal O Monitor, sendo duas vezes diretor do semanário; pelo Menor, jornal de sua fundação; pelo Jornal de Garanhuns; pelo jornal O Século; pelo Jornal do Commercio, como correspondente.

Humberto de Moraes exerceu, ainda, o trabalho artesanal de protético, chegando a trabalhar em Recife e no Rio de Janeiro. Político, lutou em Garanhuns pelo antigo MDB - Movimento Democrático Brasileiro, sendo duas vezes vereador e vice-prefeito.

Idoso, na época da transição do século XX para o século XXI, foi corretor de imóveis. Ao longo da vida, foi Diretor do SENAC, do ginásio de esportes do SESC, presidente várias vezes do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, presidente da Academia de Letras de Garanhuns. Instituiu leis importantes, como vereador, em benefício do trabalhador e da paisagem. Criou a famosa coluna jornalística CALÇANDO 40. Manteve por anos o noticiário A CIDADE EM FOCO, a audição do rádio mais sintonizada, toda  noite, não aos domingos, às 19h.

Viveu 81 anos, com nascimento em Calçado, em 1 de abril de 1926, e falecimento em Salvador, em 3 de julho de 2007. Quase toda sua existência foi em Garanhuns, sendo-lhe conferido, juntamente com o seu pai, o Doutor Raimundo  de Moraes, grande prestígio e respeito.

Humberto Alves de Moraes foi indubitavelmente o grande jornalista de Garanhuns. Jornalista e cidadão exemplar. Garanhuns não seria a cidade que é hoje, não fosse a passagem desse astro luminoso.

Se continuasse entre nós, nesse primeiro de abril, estaria fazendo 98 anos de idade. Não está materialmente... Recebe, contudo, essa homenagem, por ser o patrono da cadeira 6, por mim defendida, com muita honra. (Reunião da AMIGA - Academia dos Amigos de Garanhuns, Abril de 2024).

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.